A política tem destas grandes
coincidências, foi precisamente quando a imagem de Cavaco bati no fundo, ao
ponto de merecer menos confiança do que o presidente da junta de freguesia de
Belém, que o homem se lembrou de salvar o país.
Cavaco nada fez para salvar o
país da incompetência do primeiro-ministro, do governo e da maioria dos seus ministros,
ficou calado em relação às tropelias académicas de Miguel Relvas, não tugiu nem
mungiu durante sucessivas revisões do memorando, muitas delas estimuladas pela
tese do troikismo à bruta de Passos Coelho e Vítor Gaspar.
Cavaco calou-se sistematicamente perante
uma política económica incompetente e
maldosa e em vez de denunciar os seus resultados desastrosos optou por repetir
as previsões optimistas, prometeu crescimento em 2012, já prometeu crescimento
em 2013 e ainda há duas semanas dizia que acreditava no cumprimento da meta do
défice.
O mesmo Cavaco que durante os
governos de Sócrates parecia querer deprimir o país com os seus miseráveis
roteiros da pobreza, com tudo quando era pobre a exibir as mazelas que a
Presidência esquecia no dia seguinte, ficou calado perante a miséria provocada
pela política económica do governo que tanto ajudou a eleger.
Cavaco ignorou as sugestões
miseráveis de Passos Coelho e Relvas para que os jovens abandonassem o país,
logo o mesmo Cavaco que no passado tantas vezes se preocupava com o
envelhecimento do país. Nem uma única palavra de apelo a uma política de apoio
aos jovens em nome da obediência total aos credores, como se fossem estes os
ideólogos da política brutal implementada pelo seu governo.
Cavaco ignorou muita coisa que
lhe convinha ignorar,um bom exemplo dessa amnésia lacunar de que parece sofrer
tem a ver com os vencimentos chorudos dos gestores de empresas, algo de que ele
fez bandeira ainda no tempo de Sócrates, quando chorava lágrimas de crocodilo
por causa da injustiça e assimetrias na distribuição do rendimento. Agora que o
pensionista Eduardo Catroga ganha mais de 50 mil na EDP onde faz pouco mais do
que pentelhos, isto na sua própria unidade de medida, Cavaco já se esqueceu das
suas preocupações com as remunerações excessivas.
Cavaco não quer salvar o país ou,
como diria o Gaspar, coisíssima nenhuma, o que Cavaco quer salvar é a sua
própria imagem e dar um pequeno empurrão ao PSD autárquico, o refúgio de muitos
cavaquistas, como se tem podido ver por algumas apresentações de candidaturas
autárquicas. Desta manobra de Cavaco não resultará nada de bom ou de melhor
para o país, é uma manobra manhosa que visa destruir o CDS e o PS, não se
importando muito com a deslocação de votos para a esquerda conservadoras. O que
Cavaco está fazendo não é novidade nenhuma, já o fez num outro contexto de
crise, destruiu o governo do Bloco Central quando percebeu que vinham aí as
ajudas comunitárias.
Cavaco quer salvar-se a ele
próprio e o PSD numa nova versão cavaquista, queima agora o Passos Coelho, o
CDS e o PS, para lançar uma OPA cavaquista ao PSD quando as condições externas
forem mais favoráveis.
O país não precisa de ser salvo por Cavaco, o que o país
precisa é de ser salvo do Cavaco.