Bastaria a promessa de agendar a dissolução do parlamento
para que um parido defensor dos valores democráticos rejeitasse esta manifestação
de caudilhismo, é inaceitável que um Presidente da República use a duração da
legislatura como instrumento de pressão ou de chantagem para que partidos
democráticos negoceiem o que quer que seja segundo as suas condições.
Parece que a plataforma de salvação nacional começa pela
negação da democracia, a alternância democrática só é aceite por Cavaco Silva
se obedecer a um programa eleitoral comum a todos os partidos. Se Cavaco diz
que não vale a pena realizar eleições porque a política será a mesma e depois
promete eleições para daqui a um ano se os partidos chegarem a um acordo de políticas
para uma década é porque só aceita as eleições se todos os partidos se
comprometerem a irem a eleições para depois cumprirem o programa pré acordado.
E a que acordo devem chegar os partidos? Um acordo que
permita ir aos mercados, que evite um segundo resgate e que garanta a
continuidade desta situação, isto é, Cavaco Silva acha que na ausência de Vítor
Gaspar os partidos devem dar garantias de que devem eternizar o seu programa
económico e é isso que explica porque razão Cavaco deu posse a uma modesta
economista como ministra das Finanças de olhos fechados e depois usa a proposta
de remodelação governamental para forçar o PSD a negociar prometendo ao PS
eleições um dias destes para que este partido alinhe.
Cavaco evoluiu do consenso para o acordo forçado, dantes queria
consenso em torno das políticas, agora exige ao PS que apoie a política de
Passos Coelho. Ao manter este governo e dizendo que o objectivo do acordo é a
ida aos mercados é óbvio que Cavaco quer manter esta política. Cavaco tentou
ignorar o Tribunal Constitucional e deu-se mal, agora quer neutralizar a
Constituição obrigando o PS a transformar a maioria de direita em maioria
constitucional.
Cavaco não tem autoridade e o seu mandato pouco mais tem
sido do que apreciar o sorriso do gado bovino ou ir às Ilhas Selvagens para
observar as cagarras. Os acordos assinados sob os seus auspícios não têm
qualquer valor pois são desrespeitados pelo governo sem que da sua parte se
veja qualquer reacção. O governo renegociou o memorando meia dúzia de vezes sem
o conhecimento de ninguém e o que fez Cavaco Silva? O governo esqueceu os
compromissos assumidos no acordo de concertação social e o que fez Cavaco? É
ridículo ouvir agora Cavaco pedir aos partidos que ouçam os parceiros sociais,
o mesmo Cavaco que aprece não ter ouvido os parceiros sociais queixarem-se de
que o governo os ignorava.