quarta-feira, julho 03, 2013

Resigne senhor Silva

Um presidente que sabendo da crise profunda e do fim eminente da coligação ignora um pedido de demissão do líder de um dos dois partidos da coligação e dá posse a uma ministra cuja escolha é a causa da crise só tem uma coisa a fazer, demitir-se.

Um presidente que ignora sistematicamente a Constituição da República, reduzindo as competências da Presidência da República às do seu vizinho da Junta de Freguesia de Belém e que quando está em dificuldades invoca a Constituição para dizer que nada pode fazer, só tem uma coisa a fazer, demitir-se.
Um presidente que por causa de odiozinhos pessoais dá cobertura a conspirações contra a democracia, incita o descontentamento e faz discursos incendiários e depois ignora o desastre político a que ajudou só tem uma coisa a fazer, demitir-se.

Um presidente que deixa de ser presidente de todos os portugueses e usa o dia 25 de Abril para atacar de forma inaceitável a oposições, como se fosse o secretário-geral do partido do governo, só tem uma coisa a fazer, demitir-se.
Passos Coelho pode fazer de conta que é primeiro-ministro durante mais uns dias, mas Cavaco Silva já é um cadáver político, pode mesmo dizer-se que desde que se fez reeleger que o é, só que a Constituição se esqueceu de dizer como se enterram os cadáveres presidenciais quando estes se recusam a ser enterrados.
Esta crise não é apenas uma crise política ou financeira, é a crise de um modelo económico assente no oportunismo, da orientação de um país segundo estratégias partidárias e de vaidades políticas pessoais, é o resultado de um modelo de sociedade assente no oportunismo e na corrupção, é a crise do cavaquismo em todo o seu esplendor.

Demitir Passos Coelho e manter Cavaco Silva é prolongar a agonia de uma nação que teve o azar de ter sido governada na sua década mais importante e presidida na fase mais complexa por um rural do barrocal algarvio, alguém sem cultura, sem dimensão política, alguém que em má hora os portugueses elegeram sucessivamente para primeiro-ministro e depois para Presidente da República.


Demitir Passos Coelho equivale a tratar de uma gripe um doente que sofre de cancro.