Para muitos dos nossos economistas o cidadão não passa de um
autómato sem vontade ou motivação, são formiguinhas animadas que comem mais ou
comem menos em função de variáveis controladas por Gaspares. Esta concepção da
economia tende a desprezar os fenómenos sociais ou a vontade pessoal, parte do
principio de que esta atomização de comportamentos elimina a vontade de cada
um, transformando-a numa vontade colectiva expectável e manipulável. Os povos e
os países perdem a sua identidade para passarem a ser compostos químicos
directamente convertíveis em modelos manipuláveis por estes novos cientistas da
treta.
Quando tudo falha não duvidam das suas concepções ou
metodologias, descobrem que se enganaram numa variável, da mesma forma que o
químico errou ao acrescentar uma quantidade excessiva de um determinado
elemento ou composto. Em Portugal tudo foi bem feito, por quilo que se dizia há
poucos meses éramos um modelo de sucesso, uma verdadeira Heidi Klum das passarela da economia, um exemplo de sucesso do ajustamento, ainda há pouco mais de uma
semana Cavaco Silva estava confiante no sucesso do pior orçamento de que há
memória na nossa história económica.
A culpa dizem agora, é do multiplicador e talvez tenham
razão, só que se enganam no multiplicador que é culpado de tudo isto, deixem o
Keynes dormir em paz porque os multiplicadores responsáveis pela desgraça lusa
são outros, o país está a ser vítima da combinação dos efeitos dos
multiplicadores da estupidez e da canalhice de uns filhos da mãe que não passam
de proxenetas e na hora das dificuldades não só atiram os sacrifícios para cima
dos outros como ainda exploram a hipótese de ganharem mais algum.
O país tem sido um imenso laboratório da sacanice, com muita
gente a mentir, a dar o dito pelo não dito. Os que eram mais troikistas do que
a troika dizem agora que a culpa foi do memorando assinado pelo Sócrates, os
que tinham orgasmos a elogiar o Gaspar agora fogem dele como o diabo foge da
cruz, os que defendiam uma ditadura gasparista como se o modesto e desastrado economista
fosse um novo Salazar querem agora um governo de salvação nacional, os que
defendiam o corte brutal, talvez para metade, do rendimento dos funcionários e
pensionistas acham agora que em vez de cortar metade do vencimento devem ser
despedidos metade dos funcionários.
Estes canalhas têm sujeitado o país e o povo a doses de
cavalo de estupidez, de medo, de chantagem, depois querem que os portugueses
consumam e que os investidores estrangeiros apostem num país em estado de
guerra. O governo inspira-se em Hitler para lançar as suas políticas, chama
requalificação ao despedimento, sugere a “deportação” voluntária a que chama
emigração para os que estão a mais, todas as políticas que lança são apoiadas,
no medo, na chantagem, na ameaça. No fim, o povo ainda é apelidado de piegas!
Em Portugal o que falhou não foi uma política económica ou o
multiplicador da recessão, foi o multiplicador da canalhice.