Como diria o senhor Silva o normal no países da Europa é que os partidos se organizem em torno de projectos e que tentem convencer os cidadãos das vantagens das suas propostas. É bom para o progresso que os partidos se esforcem em apresentar os melhores projectos e que para isso procurem atrair para os seus quadros os cidadãos mais habilitados e melhor preparados. Com gente competente e bem formada há equilíbrio, capacidade de diálogo e de se chegar a compromissos.
E por falar no senhor Silva é também normal que num regime semipresidencialista o Presidente da República se dê ao respeito e seja respeitado por todos, o normal nos países da Europa é que os presidentes cumpram com os seus juramentos, desempenhando uma função de equilíbrios. Não é normal que um presidente negoceie a duração das legislaturas e a antecipação de eleições a troco de compromissos e ainda é menos normal que processos de diálogo entre partidos seja tutelado e vigiado por controleiros da presidência.
Quando nada disto acontece o sistema entra em desequilíbrio e como sucede em todos os desequilíbrios ecológicos umas espécies entram em processo de extinção enquanto outras florescem. Há muito que no sistema partidário português se multiplicam as ervas daninhas. Os partidos deixaram de atrair os melhores para serem coio dos mais fracos mas melhores em truques e em manhas. Deixaram de atrair os honestos pois estes há muito que foram eliminados pelos corruptos.
O tal senhor Silva transformou o seu partido num partido de Estado e só faltou os rolos de papel higiénico trazerem colada uma ficha de inscrição no partido. Aos poucos a classe política tornou-se numa classe social abastada, que enriquece com corrupção, cargos em empresas, posições em escritórios de advogados. O sistema partidário foi tomado pelos interesses e por uma geração de políticos manhosos, formados nas jotas. Os velhos militantes de causas começam a ser isso mesmo, velhos. No seu lugar está uma geração formada nos pequenos golpes e manhas das associações de estudantes e “licenciados” em Castelo de Vide e noutras universidades, ouvindo as baboseiras dos professores Marcelos.
Os partidos devia atrair honestos e atraem desonestos, deviam promover a competência e gera líderes com cursos da treta ou tirados com requerimentos, devia produzir projectos consistentes e só produz mentiras eleitorais. Até a política autárquica que devia ser um viveiro de futuros governantes acabou por ser uma escola de negócios menos claros e em vez de produzir gente competentes só produz caciques itinerantes.
A luta política em Portugal chegou a um ponto em que a linha divisória já não está entre esquerda e direita, está entre competência e incompetência, entre honestidade e corrupção, entre interesse nacional e oportunismo. O sistema partidário apodreceu as instituições como a Presidência da República perderam o seu prestígio e o povo começa a não ter em quem acreditar. Neste quadro só há três saídas possíveis: ou os partidos invertem esta tendência, ou se criam novos partidos ou aparece alguém a salvar o país dos partidos. A primeira palavra cabe aos militantes dos partidos, a segunda caberá ao povo e nestas coisas o povo costuma decidir da pior maneira, como se viu nas últimas eleições qualquer atrevido pode armar-se em salvador da pátria.