Passos Coelho fez surf na onda de ódio ao Sócrates promovido por uma vasta coligação formada por gente que ia do Mário Nogueira ao Manuel Alegre, do Carrilho ao José Manuel Fernandes, ou da Ana Gomes aos Deolinda, acrescentou a este clamor de penduras da Nação, disse umas quantas mentiras e ganhou as eleições. Durante quatro anos será o dono dos votos dos portugueses, por mais odiado que seja, por mais que os portugueses o rejeitem, a verdade é que votaram nele e a guardar os seus votos tem um fiel Cavaco Silva.
De nada serve agora dizerem que não votaram em Passos ou juras de que nunca mais votarão, Passos Coelho é o voto dos portugueses e durante uma legislatura, por Portugal é um país europeu moderno, ele fará o que quer e lhe apetece. Mas não posso criticar os que votaram na direita e que hoje andam armados em virgens ofendidas, nesta democracia de partidos e políticos sem escrúpulos é inevitável que os políticos se comportem como tutores de eleitores que consideram débeis mentais.~
Até eu fui vítima deste logro, não querendo favorecer o ideal da ditadura do proletariado, seja na versão dura de Jerónimo de Sousa ou na versão Dior da Ana Drago, e evitando dar argumentos a uma direita canalha, calei o que me ia na alma em relação ao Seguro e acabei por cometer o erro de votar no PS. Não me ocorrer votar num Marinho que oscila entre o populismo de esquerda e valores da extrema-direita, dei mais uma oportunidade ao líder fraco do PS.
Foi um erro, agora anda o Seguro de distrital em distrital pedindo que o mantenham como líder do PS porque um dia os portugueses não terão outro remédio do que votar nele. Pouco importa se votam nas suas ideias, no seu projecto ou porque acreditam nele, o que importa é que um dia chegará ao poder e os que acreditaram nele terão o seu lugar junto ao pote. Porque para políticos como Seguro ou Passos Coelho o pote é o centro da democracia, é a troco do pote que os juízes do constitucional deviam ser mansos, que os aparelhos partidários apoiam os líderes ganhadores.
E é vendendo a imagem de líder ganhador que Seguro promete o pote aos que o mantiverem no poder. A lógica é simples, ganhou duas vezes e, portanto, continuará a ganhar, pelo que depois das legislativas será ele o homem do pote. Pouco importa o que vai fazer, o que já acordou com Passos Coelho ou Cavaco, o que o povo vai sofrer, o que importa é que os que o apoiaram terão um lugar no pote.
Até lá pouco importa a razão porque votei nele, o meu voto, dizem os seus apoiantes, foi no seu brilhantismo político, foi uma aposta na sua liderança, foi o meu apoio na sua manutenção na liderança do PS. Tal como sucede com os que elegeram Passos Coelho não posso pedir o meu voto de volta, exigir-lhe que não o use de forma tão rasca. Resta-me dizer-lhe que em circunstância alguma voltarei a votar num PS liderado por ele.