segunda-feira, junho 09, 2014

O mundo irreal dos bajulados

Uma boa parte das nossas elites e altos dirigentes do Estado e das empresas privadas não passam de bajuladores. A bajulação é tão ou mais importante quanto as capacidades pessoais, as aptidões profissionais ou as habilitações académicas para se singrar e ter sucesso na vida. Começa-se de pequenino como graxista de professores e vai-se singrando e iludindo a mediocridade especializando-se na bajulação do poder. 
  
Basta ligar a televisão e esperar por uma qualquer entrevista de um ministro para se perceber a importância da bajulação nos rituais do poder. Atrás do ministro aparecem sempre três ou quatro altos dirigentes do Estado, das empresas, adjuntos ou assessores cuja função é acenarem  com a cabeça, com um ar muito sério, de quem está digerindo e a avaliando as palavras uma a uma.
  
Um primeiro-ministro um ministro ou mesmo um alto dirigente do Estado acaba por viver num mundo irreal, um mundo construído pelos bajuladores que o rodeiam e onde só se vê sucessos. Tudo o que se decide é alvo dos maiores elogios, qualquer graçola desencadeia gargalhadas prolongadas. Ao fim de algum tempo pensa-se mesmo que o mundo de mentiras que lhes é construído à volta é real, sentem-se deuses. Imagine-se a confusão que irá na cabeça de alguém, vulgar e com uma inteligência mediana como é Passos Coelho neste mundo de bajuladores.
  
Um bom exemplo desta dimensão execrável da nossa vida política está-nos sendo dado por alguns apoiantes de José António Seguro. Leiam-se, por exemplo as numerosas intervenções que nestes dias têm sido feitas por um tal Álvaro Beleza, são um imenso cardápio da bajulação. Por exemplo, todos sabemos que Seguro era contra as directas e que a sua opção não passou de uma manobra suja para ganhar tempo e votos de mercenários para se manter na liderança que receia perder. Pois o nosso Álvaro viu nessa decisão um segundo 25 de Abril e descobriu no seu chefe um Salgueiro Maia dos tempos modernos.
  
O problema da bajulação é que tem um peso tão grande nos processos de decisão e na escolha dos dirigentes do Estado, do governo e das empresas que é uma das causas do nosso subdesenvolvimento. Em vez de termos gente inteligente, competente e corajosa nos lugares de decisão, temos fracos que singraram com recursos à bajulação e que não hesitam em recorrer a todos os meios para ultrapassarem os mais dotados. Por outro lado, vive-se num mundo irreal, cheio de sucessos, em que os mais altos dirigentes são promovidos pelos bajuladores a deuses infalíveis.