Com a direita a instrumentalizar a situação da Grécia desde há anos e em particular desde que o Syriza chegou ao poder e com alguma esquerda conservadora a fazer da primeira vitória eleitoral do Syrisa a bandeira da reestruturação da dívida o resultado das últimas eleições gregas entra necessariamente no debate eleitoral.
A primeira lição não é dirigida aos políticos mas sim aos jornalistas e sondageiros, enquanto a democracia vigorar e as fraudes eleitorais não ressurgirem as realidades virtuais criadas pelos jornalistas avençados e por matemáticos convertidos em sondageiros sem escrúpulos não resultam em resultados eleitorais. Os eleitores gregos não são imbecis ao ponto de votar em quem os sondageiros escolhem para liderar sondagens aldrabadas.
A segunda lição também se aplica aos jornalistas, uma classe profissional que julga ter a democracia nas suas mãos, convencidos de que podem manipular a opinião pública levando os eleitores a votar em quem os seus patrões querem. Vão longe os tempos dos camiões e camionetas carregadas de eleitores analfabetos. Ainda existem os caciques da banca, das energéticas, dos colégios e hospitais privados e os jornalistas fazem de motoristas de camioneta, mas os eleitores evoluíram muito desde o tempo das grandes manifestações do regime anterior.
A quarta lição vai para a esquerda conservadora que considera o não pagamento da dívida o que distingue a direita da esquerda. Animados com a possibilidade de desintegração da EU e do Euro o BE o PCP exultaram de alegria e por pouco até o Jerónimo de Sousa se esquecia dos seus camaradas do KKE e manifestava a sua admiração pelo Tsipras. Com a cisão do Syrisa a esquerda conservadora vacilou e esperou pelos resultados antes de escolher entre o Varoufakis e o Tsipras. Agora tem um problema, apoiar o Syrisa é apoiar um programa de austeridade.
A quinta lição da Grécia vai para a direita que apostou tudo numa derrota do Syrisa, depois de anos a ofender a Grécia com comparações menos próprias no quadro da EU, depois da tentativa de asfixiar a Grécia colocando obstáculos nas reuniões europeias, a direita portuguesa vai ter de aceitar os resultados das eleições gregas como uma resposta aos seus extremismos. Aceitar a austeridade não é necessariamente perder a dignidade enquanto país e muito menos andar a lamber o rabo a políticos estrangeiros.