Por aquilo que se tem sabido pelos processos dos recursos e pelas sucessivas violações do segredo de justiça, que tudo leva a crer têm origem na justiça e servem os interesses desta, as provas que eventualmente existem contra Sócrates nunca poderiam ter sido destruídas pelo arguido. Movimentos bancários, decisões do Conselho de Ministros e movimentos e declarações fiscais são, por definição, provas indestrutíveis. Não estando em causa informação guardada em computadores privados ou em documentos particulares ou mesmo testemunhos o argumento do perigo de destruição de provas é uma mentira e, como é sabido o risco de fuga nunca existiu.
Sócrates esteve todo este tempo preso porque a dupla formada pelo procurador que acusa e o juiz de direito que serve de auxiliar da acusação assim o desejaram. Os motivos para tal decisão lá saberão, certamente terão muitos argumentos jurídicos, mas o cidadão comum alvo de doses industriais de violações do segredo de justiça também pode formular opiniões e aos eventuais fundamentos jurídicos e porque é chamado a opinar pode acrescentar outros, como o ódio dos intervenientes a Sócrates, a defesa de interesses corporativos ou, como sugeriu Rangel, a obediência a agendas partidárias.
Agora coloca-se a questão de saber o porquê de uma saída da prisão por iniciativa dos magistrados envolvidos na acusação e no apoio desta. Certamente não resultou de um gesto de generosidade e pelo que sabemos do processo ainda há muitos negócios em Portugal e arredores por analisar pelos investigadores. A transferência de Sócrates da prisão de Évora para a prisão doméstica é o resultado da fora como foi tratado Ricardo Salgado.
Enquanto Sócrates só podia vir para casa com pulseira electrónica Ricardo Salgado ficou “confinado à sua habitação e respectivos logradouros”, contando ainda com metade da esquadra da PSP de Cascais para lhe assegurar segurança e cumprimentar familiares e amigos que lhe tocam à porta. A comparação foi inevitável e os magistrados perceberam que tinha de deixar passar umas semanas para disfarçar e dar a um ex-primeiro-ministro odiado pelos magistrados o mesmo estatuto que foi dado ao banqueiro trafulha. Isto é, que na verdade libertou Sócrates não foi nem o Rosário, nem o Alexandre, foi Ricardo Salgado que libertou Sócrates.
Só foi pena que Ricardo Salgado não tivesse disponibilizado o seu Mercedes e o motorista para que Sócrates poupasse os serviços prisionais da boleia, proporcionando-se a Sócrates a mesma amabilidade com que o juiz Alexandre tratou o banqueiro conhecido pelo DDT. Quem assinou o despacho foi o juiz Alexandre, mas o verdadeiro autor moral desse despacho foi Ricardo Salgado, a "justiça" não libertou Sócrates em nome dos valores da justiça mas sim em nome da imagem dos seus autores que ficaria muito cagadinha com a comparação entre os tratamentos dados a Sócrates e a Ricardo Salgado.
Sócrates foi libertado em nome do bom nome dos intervenientes neste processo, começaram por ganhar fama com a sua prisão, agora protegem-se libertando-o.
Sócrates foi libertado em nome do bom nome dos intervenientes neste processo, começaram por ganhar fama com a sua prisão, agora protegem-se libertando-o.