A melhor invenção da direita na história da democracia foi o Bloco de Esquerda, uma marca política registrada pelos restos de grupos marxistas-leninistas e trotsquistas que durante os últimos anos tem feito mais pela direita do que uma boa parte dos dirigentes que passaram pelo PSD e pelo CDS e que nunca conseguiram cegar ao poder. Socialmente minoritária a direita só chega ao poder em situações muito particulares ou com ajuda. Aliás, para derrubar um governo de esquerda a meio de uma legislatura a direita precisa sempre da ajuda de parte da esquerda e isso já sucedeu por mais de uma vez.
A primeira vez que a direita conseguiu superar o seu handicap isso sucedeu com a ajuda de um Presidente da República e da sua esposa ambiciosa que o ajudou a inventar um partido com validade temporária que apenas serviu para levar Cavaco Silva ao poder durante dez anos. Cavaco chega ao poder com menos de 30% dos votos dos portugueses e com o desaparecimento do PRD Cavaco chega à maioria absoluta. Nesse tempo PC(R), o partido comunista reconstruído que os grupos marxistas-leninistas unidos na UDP consideravam o verdadeiro “partido” por oposição aos revisionistas do CP de Álvaro Cunhal, representava 0,33% dos votos e tinha menos de 20000 votos. Os trotsquistas ainda andava quase na clandestinidade, eram “perseguidos pelos “marxistas-leninistas” e a suas raparigas ainda não se despiam para revistas finas e usam verdeiros tufos de cabelo nos sovacos, quase dava para fazer madeixas.
Enterrado o romantismo do centro o espectro eleitoral do país voltou ao norma, os últimos anos de cavaquismo foram um regabofe de incompetência, de corrupção e de enriquecimento fácil, a direita voltou a encolher socialmente. Sem projectos ao centro que impedissem o PS de chegar ao poder e com um PCP agarrado ao seu velho projecto comunista a direita ficou sem alternativas. Foi quando nasceu o BE, um Fazenda fraco e uma UDP quase em extinção, um Miguel Portas com excelentes elções na comunicação social e o Louçã ainda com algum perfume foram a combinação exacta para lançar um PRD de extrema esquerda, aquilo a que Portas designou por esquerda caviar.
A direita voltou a ter esperança e durante anos a comunicação social controlada por grupos económicos sediados no PSD apostaram em figuras como Joana Amaral Dias, Ana Drago, tudo raparigas frescas e bem cheirosas, bem como em alguns jornalistas da extrema-esquerda bem educados. A aposta resultou, esta gente ávida de protagonismo, como agora se tem visto com o Desp!r, o partido da ambiciosa Joana.
Sem esperança numa maioria absoluta a única hipótese da direita cegar ao poder é ser o “partido mais votado” e isso pode ser conseguido de duas formas conseguindo mais votos ou levando a que o PS tenha menos votos. Com um ódio generalizado a este governo a esperança da direita reside em emagrecer o PS e como não espera que os votos do PS possam ser captados pela coligação dos pafiosos resta-lhes que o PS perca votos para a esquerda conservador, de preferência para o BE pois ao contrário do PCP, os que hoje são da extrema-esquerda amanhã terão o estatuto de filhos pródigos da direita.
O que ganhou, o país ou a esquerda com o BE? Nada. Até nas famosas questões fracturantes, grande bandeira dos trotsquistas da LCI de Louçã e depois do BE todas as mudanças ocorridas do país foram conseguidas à custa das maiorias absolutas do PS, principalmente por um governo que uniu a direita e o BE num ódio que os uniu a hora de derrubar. Uma boa parte do que o país sofreu nos últimos cinco anos teve a assinatura do BE. O PAF e o Syrisa tuga são farinha do mesmo saco.