Se a realidade fosse tão ao quanto a realidade virtual que o governo inventou para efeitos eleitorais Passos Coelho não teria estado com um ar tão congestionado durante o debate e não teria sido tão quezilento com os jornalistas. Se o crescimento económico fosse consistente, se houvesse registo de novos investimentos, o corte da despesa pública tivesse sido resultado da redução das famosas gorduras do Estado teríamos visto um Passos Coelho seguro e vitorioso.
Mas a ficção da direita não corresponde à realidade. O SNS não está melhor como diz Paulo Macedo, os jovens escorraçados para a emigração por uma politica que pretendia iludir as estatísticas d desemprego não têm condições para regressar, os funcionários públicos não acreditam na bondade das intenções da direita, os pensionistas receiam cortes nas pensões e os cofres não estão a abarrotar como diz a Maria Luís.
É porque a realidade é bem mais negativa do que o que diz a propaganda oficial que Cavaco Silva decidiu adiar a cerimónia da abertura do ano judicial para que a ministra da Justiça pudesse continuar escondida, o ministro Crato também anda em parte incerta apesar de estarmos a dias da abertura do ano escolar, a ministra da Administração Interna refugia-se em funerais, o Paulo Macedo não se deixa ver e do Maduro já ninguém se recorda. Mesmo no PSD anda muita gente fugida, a começar por um Marco António que parece evitar grandes aparições.
Esta e a imagem de um governo que falhou não só nas politicas que adoptou a coberto do memorando e da troika, mas também porque foi incompetente. Paulo Macedo falhou na política de saúde e foi incompetente porque não evitou as mortes nas salas de espera. Couto dos Santos falhou porque piorou a escola pública mas também foi incompetente ao dar barraca em todas as aberturas do ano escolar. A política para a justiça foi igualmente um falhanço, mas a este falhanço temos de acrescentar a incompetência e má fé de uma ministra incapaz de lançar um projecto informático e de assumir as suas próprias responsabilidades.
O governo só não falhou nas privatizações feitas à pressa, na intervenção no BES feita sem olhar a meios e sem cuidar das poupanças dos emigrantes, na distribuição de subsídios às escolas privadas, na promoção dos hospitais privados e na criação da taxa moderadora na interrupção voluntária da gravidez. Foi por isso que o país viu ontem um primeiro-ministro derrotado, incapaz de justificar as suas opções, denunciado como um mentiroso e caindo no ridículo de usar sistematicamente pequenos golpes baixos para desviar as atenções.
Ontem o país viu um homem vulgar, sem grandes recursos intelectuais, sem ideias e sem projectos e que meses depois de Vítor Gaspar ter fugido insiste numa política económica que falhou e numa equipa formada por gente incompetente e incapaz de assumir responsabilidades, que em vez de aparecer a dar a cara pelo seu governo anda escondida dos olhos dos portugueses.