Imagine-se que uma coligação formada pelo PCP e pelo BE tinham mais de 30% de votos, que os seus quadros dominavam a comunicação social e que as sondagens lhe davam uma vitória eleitoral. A direita diria que o país era uma segunda Venezuela, exigiria ao PS e a todos os do centro esquerda ou de esquerda não conservadora que se demarcassem dessa esquerda intolerante.
Em Portugal há uma esquerda conservadora que de forma clara ou menos clara defende um modelo de sociedade que considera a democracia desnecessária porque há uma vanguarda melhor preparada pare governar. Mas a direita é toda muito democrática, a extrema direita governou o país durante meio século, havia uma polícia política, regressaram ao país todos os administradores coloniais, as elites militares apoiaram o regime, muitos funcionários públicos juraram-lhe lealdade. Mas, milagres dos milagres, de um dia para o outro sóa há “social-democratas”, descendentes ideológicos de uma cisão no movimento comunista, bem como democratas cristãos, herdeiros dos antigos cruzados e Cerejeiras, que de um dia para o outro levaram um baptismo de democracia.
Essa direita sempre odiou a democracia, anseia por despir as vestes repugnantes de democrata, olha para qualquer constituição democrata como instrumento de Santanás. É essa direita que nos governa, que a liderar o governo um herdeiro do colonialismo que agora dá o tudo por tudo. Até aqui compreende-se, não seria nos cursos da Tecniforma que Passos ia aprender a ser democrata, nem porteiro de aeródromos quanto mais democrata, nem o Portas se livraria dos tiques da velha direito a andar de Jaguar por avenidas conhecidas de Lisboa.
Mas seria de esperar que na direita alguém se incomodasse com o que se passa, com o desprezo pelos parasitas grisalhos, pelo ódio aos funcionários públicos, pelo sangue-frio com que se abandonam pobres nas urgências. Mas isso não sucede, honra seja feita a Manuela Ferreira Leite (esperemos que não tenha de engolir esta referência) ou Pacheco Pereia que ousam criticar essa gente. A regra da direita bem pensante é o silêncio, havendo muita gente que a troco de benesses ou de apoios não hesitam em “vender-se-“.
Estas eleições são únicas no pós 25 de Abril, é a direita a querer o poder a qualquer custo para usar a crise financeira para destruir o que se construiu em mais de trinta anos, Já que não conseguem uma nova Constituição, destroem aquilo que tem sido protegido por essa Constituição. Já não há complexos, nem sequer o Expresso faz o mais pequeno esforço para se demarcar dos velhos pasquins fascistas, para Balsemão é mais importante a sobrevivência da Impresa do que a democracia, os banqueiros dão o tudo por tudo para se salvarem dos erros à custa de uma transferência de riqueza dos mais pobres.
Estas são as eleições mais importantes desde o 25 de Abril, ou se ganham ou em caso de derrota não se perde apenas o poder durante uma legislatura, perde-se muito do que se construiu, perdem-se os sonhos que a democracia nos deu.