segunda-feira, fevereiro 16, 2009

José Sócrates, a alternativa à falta de alternativa

António Guterres ganhou a Fernando Nogueira muito graças à ajuda mais ou menos premeditada de Cavaco Silva que estava convencido de que para chegar à Presidência da República teria de sacrificar o PSD nas legislativas. Independentemente do mérito ou desmérito de António Guterres os portugueses disseram que estavam fartos do cavaquismo.

Durão Barroso mudou a imagem do PSD com a ajuda financeira da Somague encheu o país de outdoors e ganhou as eleições a um Ferro Rodrigues prisioneiro da imagem de uma legislatura de indecisões a que António Guterres designou por pântano no momento em que decidiu abandonar o Governo.

José Sócrates ganhou a um PSD de Pedro Santana Lopes que já estava derrotado muito antes de iniciar a campanha eleitoral, tantas foram as trapalhadas do “menino guerreiro”.

Há mais de dez anos que os portugueses fazem escolhas eleitorais inevitáveis, votam mais contra do que a favor, ouvem mais as promessas de última hora do que debatem os programas. Dos últimos quatro primeiros-ministros pelo menos três elaboraram programas à pressa, mais a pensar na simpatia do eleitorado do que nos problemas do país, dois abandonaram o cargo antes do fim da legislatura e um foi corrido pelo Presidente da República.

É uma década durante a qual os governos navegaram à vista, com programas eleitorais que não se converteram em programas de governo. À excepção de Guterres nenhum dos primeiros-ministros fizeram o tirocínio como líderes da oposição, alguns nem tinham grande experiência governativa e se a tinham foi em pastas sem grandes dificuldades.

A democracia portuguesa só consegue gerar governantes, não produz líderes da oposição. os candidatos a primeiro-ministro não provam a sua capacidade nem estudam a situação do país enquanto lideram a oposição. Em Portugal só primeiros-ministros e candidatos a primeiros-ministros, as legislaturas são uma “seca” durante a qual os partidos que ambicionam o poder passam o tempo entre bocejos e pequenas gritarias quando surgem más notícias para o país.

Mais uma vez aproximam-se umas eleições em que quase tudo está decidido à partida, novamente o líder da oposição foi alguém que nem se candidatou a deputado, talvez por cansaço da política, e que apenas se atirou à liderança do PSD quando julgou haver condições para chegar a São Bento, mais do que um projecto para o país o que impeliu Manuela Ferreira Leite para a liderança do PSD foram as más notícias económicas que vinham lá de fora.

Os portugueses estão tão cansados da preguiça da oposição que por mais golpes que Sócrates recebe mantêm a intenção de dar a vitória eleitoral. Os próprios partidos da oposição não se apresentam com um projecto alternativo, todos eles se juntam às corporações, e agora à própria Igreja Católica, com o objectivo de retirar a maioria absoluta a José Sócrates. O melhor que têm para propor ao país é uma crise política num momento de grave crise económica, são incapazes de apresentar um programa e de assumir um discurso que dê esperança aos eleitores. Uns dizem mata, os outros juntam-se dizendo esfola.

Sócrates surge assim como a única alternativa à falta de alternativa.