sexta-feira, fevereiro 06, 2009

O outro lado da realidade

A lição que toda a classe política deveria ter aprendido com o Caso Freeport é que a maioria dos portugueses não está interessada em ver os problemas resolvidos, as tentativas de linchamento entre as elites pouco lhes interessa. O cidadão o seu dia a dia preocupado com o seu emprego, como o pagamento da prestação da casa, ou com a qualidade da escola onde o filho anda.

Políticos do governo ou da oposição fazem parte de uma classe que vive bem, que não conhece os problemas da generalidade dos portugueses, conhecem o desemprego pelas estatísticas, preocupam-se muito com o primeiro emprego mas as grandes empresas quase têm um serviço para atender as suas cunhas. Os que governam acedem às mordomias do poder, mas os que estão na oposição beneficiam de mil e uma forma de ganhar dinheiro, por exemplo, José Pacheco Pereira ganha mais com os seus programas de televisão e colunas de jornais do que qualquer ministro.

Talvez por isso os políticos da oposição tenham ficado desiludidos porque o Caso Freeport tão tenha tido nas sondagens, algo que aqui foi dito logo quando o caso surgiu. A verdade é que nem a jornalista do SOL encontrou solução para os nossos males, nem Manuela Ferreira Leite apresentou qualquer proposta consistente e dos ingleses ao mesmo tempo que veio a carta rogatória chegaram imagens de manifestações contra o emprego de portugueses numa refinaria.

Há um divórcio entre as elites urbanas e a generalidade dos portugueses, os políticos lutam pelo poder mas os eleitores estão mais preocupados com soluções, os professores querem auto-avaliação e um estatuto que lhes garanta uma carreira sem percalços mas os encarregados querem um ensino com qualidade e que os alunos tenham aulas, os magistrados agarram-se à independência do estatuto para defender as suas mordomias mas os cidadãos querem que a justiça funcione.

Enquanto as nossas elites lutam para sobreviver, para que as mudanças no mundo e as respostas aos desafios que se colocam ao país salvaguardem os muitos estatutos de privilégio, os portugueses estão mais preocupados com a sobrevivência. O desempregado que vê na formação profissional a sua sobrevivência não está tão preocupado como os jornalistas em saber se são ou não contabilizados como desempregados.

Uma boa parte do debate político não é motivado pela crise económica nem é orientado para resolver o problema dos portugueses, é estimulado por esta ou aquela elite que não está disposta a prescindir do seu próprio estatuto. Desde o magistrado que não quer perder o subsídio de residência livre de impostos ao sindicalista pago pela grande empresa a troco da paz social podre, todos estão preocupados em assegurar que a mudança do mundo lhes passe ao lado.

Desesperados por terem perdido a esperança de aceder ao poder os políticos da oposição já se esqueceram de que ganha as eleições quem convencer o eleitorado de que as suas propostas são as melhores, mesmo que não o sejam. Esqueceram-se de apresentar projectos alternativos para andarem a reboque de uma realidade que não é a da maioria dos portugueses.