sexta-feira, março 28, 2014

A (des)coordenação económica

Quando Vítor Gaspar ainda era ministro o país sabia para onde se queria ir e como se pretendia fazê-lo, sabia-se que os portugueses foram convertidos em cobaias de Harvard, que o Gaspar queria empobrecer aqueles que considerava um fardo social, que se pretendia um país de mão-de-obra barata e dispensável a qualquer momento. Com a saída de Gaspar e a consequente promoção irrevogável de Paulo Portas a vice de Passos Coelho e coordenador da área económica o país deixou de saber para onde ia ou como ia.
  
Deixou de se pensar em medidas e a viver-se de milagres, depois do famoso milagre de Fátima anunciado à esposa do (ainda e infelizmente) presidente o país passou a viver dos milagres da Santinha da Horta Seca que tinha substituído o sôr Álvaro na Economia e em vez de metas passou-se a viver dos indicadores publicados pelo INE, pelo instituto do (des)emprego e pelo BdP. O país deixou de crer para passar a esperar, deixou de haver política económica para se ficar pela leitura de indicadores, principalmente os menos antipáticos.

O que é feito do tal projecto de reforma do Estado? O que se pretende para o pós-troika? Como vão ser superadas as decisões de inconstitucionalidade do TC em relação a cortes que só foram autorizados por serem provisórios? Que direitos acha o governo que têm os pensionistas? Já nem vale a pena questionar o governo sobre o que pretende  no plano dos objectivos e da política económica, nem para as dúvidas mais elementares há uma resposta. É evidente que o governo que não era eleitoralista condicionou toda a sua actuação a umas eleições de segunda importância, tal como é notório que este governo não sabe o que fazer num horizonte superior a dois meses.
  
Depois de tanto debate sobre o pós-troika e de sucessivas pressões para forçar o PS à rendição perante as decisões do governo Cavaco Silva despareceu, depois de tanto milagre e tanto sucesso devido aos nossos empresários e empresas a santinha da Horta seca, esta versão melhorada da santinha da Ladeira desapareceu, depois do famoso guião para a reforma do Estado e da divulgação da última avaliação da troika o grandioso vice Paulo portas submergiu e até o próprio Passos Coelho anda muito desaparecido. Já nem vale a pena falar do ministro Lambretas pois esse mija-se por tudo e por nada.
  
Quem manda na economia, a ministra das Finanças ou o ministro da Economia? Quem manda em Portugal, Passos Coelho ou Cavaco Silva? Quem manda na política económica, Maria Luís Albuquerque ou Paulo Portas? Quem manda no sistema de pensões, o ministro Lambretas ou o secretário de Estado da Administração Pública Leite Martins? Quem manda nas políticas de emprego, o Lambretas ou a santinha da Horta Seca? Quem manda na política fiscal, a ministra Maria Luís ou o secretário de Estado Núncio? Quem manda nos vistos Gold vendidos às tríades chinesas, Paulo Portas, Rui Machete ou Miguel Macedo?
  
A verdade é que a última vez que vimos Passos Coelho e Paulo Portas juntos foi para assinarem o acordo de coligação dos 101 Dálmatas e desde então em vez de o governo ter coordenação política e/ou económica, passou a ter coordenação eleitoral e cada ministro aparece ou desaparece em função do impacto eleitoral da sua imagem ou das suas medidas. Governo e Presidência passaram a fazer um jogo de sombras, em que se desaparece quando não convém dar nas vista e se reaparece quando dá jeito, o país deixou de ser governado segundo um programa de governo, evolui de acordo com os estímulos eleitoralistas.
  
E no meio desta loja de cristais chineses eis que aparece um elefante chamado Leite Martins, antigo chefe de gabinete de Durão Barroso, que parte a loiça toda com um briefing inoportuno e desnecessário de fazer inveja ao Maduro e deixar de cara à banda o ministro da Presidência Marques Guedes. E como quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão eis que 24 horas depois de o país ficar a saber  o que não devia saber todos se preparam para linchar o pobre do Leite Martins, o pobre homem que foi nomeado para fazer de leite creme na Administração Pública foi reduzido a coalho depois ter espremido a incompetência governamental em matéria de pensões. A culpa não é do incompetente Lambretas, da desautorizada Maria Luís, do extremista Passos ou do submergido Portas, o culpado é o Leite, como diriam os putos estes gajos têm cá uma leiteira!

PS: alguém com um mínimo de inteligência acredita que Leite Martins tenha tido um "vipe" e chamou os jornalistas para lhe dar conta de algumas inconfidências, sem que nem a ministra das Finanças soubesse que o seu secretário de Estado tenha enlouquecido? Leite Martins não veio das jotas nem é um MBA ambicioso, tem muitos anos de administração pública, foi chefe de gabinete de Durão Barroso e era Inspector-geral de Finanças quando foi para secretário de Estado, tem mais experiência do que mais de metade deste governo junto.