sexta-feira, março 14, 2014

O bom cidadão respeita os mercados

O bom cidadão respeita os mercados e e isso pressupõe concordar com aqueles que o governo considera especialistas em mercados. O bom cidadão, o cidadão que está preocupado com Nação, o cidadão que quer pagar a dívida até ao último tostão, o bom cidadão não discute os mercados, não questiona as suas premissas, os mercados é para quem os percebe. Até porque há coisas que o cidadão comum não alcança, por exemplo, como pode um cidadão comum ter conhecimentos para perceber que o mesmo Cavaco Silva que defendia os mercados optou por os questionar pondo em causa as agências de notação, para agora ignorar a existência daquelas agências e voltar a pedir o respeito pelos mercados.
  
O bom cidadão trabalha, aceita o ordenado que o governo considerar mais adequado e pode estar certo de que um dia, talvez daqui a quarenta anos terá os resultados do seu comportamento exemplar. Tal como na teoria dos juros o cidadão tem de escolher entre o bem-estar imediato ou o bem-estar acrescido de juros uns anos depois, também os portugueses terão de escolher entre questionarem o governo ou esperar algum tempo pelos benefícios.
  
Há bons cidadãos e maus cidadãos, há bons jornalistas e maus jornalistas, há bons partidos políticos e maus partidos políticos, há bons assessores presidenciais e maus assessores presidenciais, há bons candidatos europeus e maus candidatos europeus. Os bons são os que respeitam os mercados e quem está habilitado a decidir o que esses mercados esperam do país, os maus são os que colocam os interesses mesquinhos do país à frente daquilo que deve ser o mercado a considerar interesse nacional.
  
Manuela ferreira Leite é uma péssima economista, um bom economista é Miguel Beleza. Miguel Sousa Tavares é um jornalista pouco recomendável, um jornalista em quem podemos confiar de olhos fechados é o Camilo Lourenço, Fernando Lima é um assessor de mão cheia enquanto Sevinato Pinto nunca o devia ter sido.
  
Dantes havia a graxa infantil, um recurso de alunos mais fracos que desta forma conseguiam os favores do mercado. Passos Coelho instituiu a graxa como um valor português, primeiro era a graxa aos funcionários de segunda linha que as instituições da troika mandam ao país, agora é a graxa incondicional aos mercado. Portugal já tinha perdido a soberania, com a forma como este governo se tem comportado também já perdeu a dignidade, agora perdeu a vergonha e rasteja perante um qualquer corretor.