Maioria absoluta do PS ou do PSD: neste caso o país terá estabilidade governativa durante a legislatura o que não significa necessariamente estabilidade política. Se o PSD governar com maioria absoluta Ferreira Leite será ajudante de campo de um presidente absolutista, a esquerda entrará em crise e a extrema esquerda terá de explicar aos seus próprios eleitores o contributo que deram. No caso de uma maioria absoluta do PS a estabilidade política também não está assegurada, a não ser que Cavaco Silva tenha o aparelho digestivo preparado para sapos e esqueça tudo o que fez para levar Ferreira Leite ao poder.
Vitória do PSD sem maioria de direita: este será um presente envenenado para Cavaco Silva que tudo fará para nomear Ferreira Leite contando com a divisão da esquerda e apostando em eleições antecipadas. Neste caso a dúvida está em saber se Cavaco apoia uma aliança entre o PSD e o CDS o que equivale igualmente engolir um sapo, neste caso chamado Paulo Portas. Cavaco tudo fará para evitar a presença de Paulo Portas num governo minoritário que será seu já que sem o seu apoio não será viável.
Uma vitória do PSD com maioria de direita: neste cenário Cavaco Silva esquecerá o seu velho ódio por Paulo Portas e não perderá muito tempo para nomear Manuela Ferreira Leite primeira-ministra. Apesar de contar com uma maioria parlamentar a líder do PSD terá de se encostar a Cavaco Silva já que não tem a dimensão intelectual de Paulo Portas.
Vitória do PS sem maioria de esquerda: estaremos perante uma crise política já que Cavaco tudo fará para impor uma solução do tipo Bloco Central, enquanto o PS tudo fará para governar em minoria sabendo que as eleições presidenciais adiarão uma crise governativa. Neste cenário as presidenciais serão uma batalha campal e Cavaco não contará com as facilidades que teve nas eleições anteriores, Sócrates não esquecerá as suas atitudes, insinuações e a dentadas que mandou os seus canídeos assessores dar no governo.
Vitória do PS com maioria de esquerda: o PCP e o BE vão achar que terão uma palavra a dizer no poder ainda que nenhum deles aceite fazer uma aliança com o PS. Sócrates preferira governar em minoria e a estabilidade governativa vai depender dos resultados das presidenciais.
É evidente que não é apenas o próximo governo que está em causa, depois do envolvimento de Cavaco Silva no apoio quase assumido a Ferreira Leite estas eleições legislativas serão a primeira volta das eleições presidenciais. A imagem de Cavaco dependerá não só do resultado das eleições, até porque corre o risco de ser o maior derrotado, como da sua actuação até às eleições presidenciais. A solução mais tranquila para Cavaco Silva seria uma maioria absoluta de Sócrates, mas depois dos golpes baixos que tem dado ao primeiro-ministro, chegando ao ponto de permitir ou mandar assessores fazer acusações absurdas a coberto do anonimato, não contará com indiferença do secretário-geral do PS.
A campanha para as próximas presidenciais começará na noite eleitoral, correndo-se o risco de Portugal vir a ser governado por um governo de direita de iniciativa presidencial, contra a vontade e o sentimento da maioria dos portugueses.