domingo, setembro 27, 2009

A qualidade da democracia

Se a qualidade da democracia fosse medida pelo comportamento do cidadão anónimo teríamos uma democracia exemplar, ninguém diria que tem uma história recente. Mas se olharmos ao que vimos no comportamento de alguns políticos e jornalistas teremos de concluir que a democracia portuguesa não tem tanta qualidade como isso.

Alguns políticos e jornalistas actuam como se os portugueses fossem uns idiotas, como se “comessem” tudo o que lhes diz. Só isso justifica as campanhas negras, velhacarias e canalhices que marcaram os últimos meses. Assessores do presidente numa verdadeira orgia conspirativa, jornalistas a montarem mentiras e campanhas de difamação, políticos a promoverem o medo para se afirmarem libertadores, livros distribuídos por mail com o apoio de campanhas publicitárias na rádio, valeu de tudo um pouco.

Esta divisão de um país em dois, com as supostas elites de um lado e o Zé Povinho do outro não se vê apenas no comportamento cívico, uma divisão profunda da sociedade, uma divisão entre os que têm lugar privilegiado no acesso à riqueza e às mordomias e os que têm que trabalhar no duro para viver um dia a dia sufocado por sucessivas crises económicas.

O problema mis grave não reside no parasitismo de algumas elites, reside no facto de para manterem um sistema que os favorece tudo fazem para que nada mude, para que a lógica do poder do voto seja substituída pela da manipulação da opinião.

Em Portugal os privilégios ou são considerados naturais ou são direitos adquiridos, tudo deve ficar como está e os políticos que governam não devem questionar os pilares de um sistema que tem um profundo desprezo pelos cidadãos.

Quem se mete com os magistrados leva, quem se mete com os jornalistas leva, quem se mete com os directores de jornais e televisões leva, quem se mete com grupos corporativos instalados leva. Tudo deve ficar na mesma para que uns continuem a beneficiar de um modelo de sociedade que os alimenta, o mesmo tempo que o país não desnvolve.