quarta-feira, setembro 09, 2009

O pregador

Enquanto dirigente político Francisco Louçã enquadra-se melhor no estereotipo do pregador do que no do líder típico do marxismo-leninismo ou mesmo do trotskismo. O seu modelo de discurso tem os tiques e estrutura típicos de uma homilia, as soluções fáceis que sugere recordam pregadores evangélicos, o culto da personalidade, são tiques que o aproximam mais do modelo de Edir Macedo dos que dos dirigentes comunistas.

Francisco Louçã imita os truques com que Edir Macedo rouba fieis à Igreja Católica, onde os outros propõem uma vida de sacrifício como condição para entrar no céu Francisco Louçã contrapõe o paraíso ao virar da esquina. O subdesenvolvimento não tem raízes no atraso tecnológico, na escassez de recursos ou na falta de qualificação de trabalhadores e gestores, para Louã a culpa é de uns quantos pecadores que roubam tudo, as boas. Se Edir faz curas milagrosas a meio das missas, Francisco Louçã promete que a gasolina barata é um milagre ao alcance de qualquer, basta privatizar a GALP, os crentes de Louçã confiam tão cegamente nas receitas de Louçã quanto os seguidores de Edir choram perante as intervenções divinas do seu bispo. Ainda ontem saiu do debate com Sócrates para ir a um comício afirmar que tinha acabado de poupar 500 milhões aos contribuintes.

Tal como o bispo Edir se aproveita da descrença de muitos católicos na sua igreja, Francisco Louçã explora as dificuldades económicas dos portugueses para se apresentar como a solução para todos os males. Tal como Edir não tem passado cristão, também Louçã tem um vazio antes do Bloco de Esquerda, a vela foice e martelo com o 4 desapareceu milagrosamente para dar lugar a uma esquerda moderna com estrelinhas de todas as cores.

Se na IURD só há lugar para o bispo Edir, é ele que faz as homilias e consegue os milagres, também no movimento de Louçã é cada vez mais evidente que os seus apoiantes mais próximos prescindem da sua personalidade para se apresentarem como apóstolos das ideias de Francisco Louçã. Se algum dirigente do BE adquire imagem própria ou faz a mais pequena sombra ao líder, como sucedeu com Joana Amaral Dias, é remetido para as bases iniciando aí um processo de purificação.

Dirigentes como Ana Drago ou Miguel Portas deixam de o ser, apresentam-se como apóstolos da visão divina de Francisco Louçã. O BE nada tem que ver com os movimentos marxistas-leninistas ou mesmo trotskistas tradicionais, é uma combinação estranha entre os princípios tradicionais destas organizações com os métodos da IURD, Louçã é mais o pregador do que o líder marxista. Um pregador tão eficaz e persuasivo que ia levando Manuel Alegre à sua comunhão.