Devo dizer que não concordo com tudo o que foi feito, o concurso para professores titulares foi um desastre, o modelo de avaliação, tal coimo foi inicialmente proposto, era um pesadelo burocrático, a equipa de secretários de Estado é de competência questionável. Maria de Lurdes Rodrigues poderia ter feito como muitos dos seus antecessores, ia ao beija-mão da Fenprof e limitava-se a preparar os anos lectivos. O debate em torno dos problemas da educação limitar-se-ia às notícias sobre as escolas que começavam as aulas com atraso devido à colocação de professores.
Hoje já ninguém se recorda da peixeirada que era a colocação dos professores, discutimos a qualidade do ensino, o sucesso ou o insucesso escolar.
Poucos ministros teriam tido a coragem ou a teimosia de Maria de Lurdes Rodrigues, muitos dos nossos políticos de barba rija teriam feito xixi pelas calças abaixo, não teriam suportado a pressão a que foi sujeita a ministra, os tomates atirados por alunos “exemplares”, as piadas brejeiras de alguns professores, a pressão política manipulada pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda. Poucos políticos teriam a paciência que Maria de Lurdes Rodrigues teve para negociar com Mário Nogueira, um sindicalista que foi para todas as rondas negociais com o objectivo de chegar a um confronto que pudesse favorecer o seu partido.
É bom lembrar que a guerra dos sindicatos à ministra começou muito antes do estatuto ou da avaliação, a ministra já era odiada pelos sindicalistas por causa das aulas de substituição que puseram fim a situações absurdas.
É verdade que sem professores que se sintam realizados a escola não terá sucesso, mas também é verdade que o facto de os professores estarem felizes não significa igualmente o sucesso da escola. Anos e anos de ministros cobardes, incapazes de enfrentar interesses instalados, que conquistaram a simpatia dos sindicatos à custa da qualidade das escolas e do erário público, levara as escolas públicas a padrões de qualidade incompatíveis com as exigências actuais do desenvolvimento económico. Não se recupera o atraso em relação à Europa enquanto nas nossas escolas se aprende muito menos do que nas escolas dos nossos parceiros.
Mal ou bem a ministra teve a coragem de tentar melhorar a escola pública e foram dados muitos passos nesse sentido, desde a generalização da utilização da Net à modernização das escolas, passando pela mudança das regras de gestão. Por mais simpática que tivesse sido teria tido sempre a oposição dos sindicatos, para estes a “Escola Pública” há muito que o deixou de ser para se transformar numa coutada privativa dos “mários nogueiras”. Não é por causa dos professores que os “mários nogueiras” odeiam a ministra, é por ter melhorado a Escola Pública sem o seu consentimento e contra a sua vontade, é porque provou ser possível gerir o sistema de ensino sem pedir autorização ao PCP.