quinta-feira, janeiro 23, 2014

Agora foram osbolseiros

Desta vez as vítimas foram os bolseiros e com tem acontecido ficaram entregues à sua própria sorte, cada vez que um grupo profissional ou social é chamado a pagar a crise todos os outros ficam em silêncio porque a cada um de nós a pimenta no cu dos outros sabe a refresco. É um lugar comum considerar que os povos são bondosos, cheios de bons princípios, solidários, etc., etc., mas a verdade é que os denominadores comum dos portugueses pouco mais é do que um chuto na bola.
  
Passos Coelho demonstrou que com o povo que somos um governo pode fazer o que quer e ainda tem o apoio do Presidente da República, o Tribunal Constitucional vai aceitando quase tudo na condição de ser em doses aparentemente suaves,  os trabalhadores do sector privado sentem mais afinidades com os catalães do que com os funcionários públicos, estes estão-se borrifando para os pensionistas e só agora é que se reparou que haviam bolseiros.
  
Ainda há alguns tempos caia o Carmo e a Trindade se um governo não aumentasse as pensões, se não investisse ainda mais em bolsas, até tivemos um oportunista que ganhou eleições com aumentos de pensões e outros truques. Por muito menos Sócrates foi crucificado e interrogo-me sobre quantas das agora vítimas votaram em Passos Coelho, ainda que se fique com a impressão de que só o deputado Carlos Abreu Amorim votou. Compare-se o que os professores perderam com Sócrates e a forma como se comportaram com o que agora lhes sucedeu e a forma como reagiram.
  
O mais grave desta política é a destruição do muito de bom que se tinha feito, mais por invejas e complexos de um líder pequenino do que por qualquer política pensada. Mas também se aprendeu como um líder pequenino consegue fazer o que quer de todo um país sem qualquer oposição, ficámos a conhecer o povo que somos, a sentir o que é e ao que pode conduzir a cobardia colectiva.
  
Alguém se incomodou com o que cortaram aos funcionários, com a redução a metade dos rendimentos dos pensionistas do Metro, com o facto de os soldados da GNR terem ficado a ganhar muito menos do que um sentadinho da Securitas  ou com o desemprego colectivo dos bolseiros? Não e mais grave do que isso muitos engoliram voluntariamente as desculpas governamentais para aliviar a consciência, como se estivesse curando o sentimento de culpa da cobardia com uma bebedeira.
  
Se alguém tinha dúvidas sobre as razões de o país ter suportado uma ditadura durante mais de quarenta anos e quando o regime há muito que já era um anacronismo há décadas deixou de as ter. Poderão dizer que na Espanha também sobrevivia uma ditadura, mas nesse país morreram milhões e o regime matava a sério, por cá a ditadura sobreviveu com brandos costumes e a verdade é que a oposição foi obra de meia dúzia de portugueses, os outros acomodaram-se cobardemente e vieram todos festejar quando uns quantos militares tiveram a coragem de derrubar o regime. 
  
Depois foi o que se viu, esse mesmo povo que veio para a rua ficou em silêncio quando os que fizeram o 25 de Abril foram entregues aos bichos, alguém chorou Salgueiro Maia, não, e já não falta por aí quem se atire que nem cães sempre que o militar do 25 de Abril abre a boca. Somos os que somos e calamos as nossas culpas aclamando falsos heróis como se isso disfarçasse a coragem que não temos.