quarta-feira, janeiro 15, 2014

Como caem os governos portugueses

Em Portugal espalhou-se a ideia de que as eleições perdem-se, não se ganham e como os nossos políticos são especialistas na teoria dos jogos adaptam o seus comportamentos a esta brilhante conclusão a que um qualquer comentador chegou. O resultado é desastroso para o funcionamento da democracia, os governos evitam expor-se, as oposições metem férias e o parlamento não passam de um faz de conta.
  
Segundo este brilhante princípio pouco importa que os governos sejam incompetentes, o que importa é o que parecem e se parecerem competentes não passam. Isto leva à escolha dos ministros segundo um critério que se poderia designar por regra Pepsodent, não importa o que vale mas sim o que parece que vale, um bom exemplo da aplicação desta regra é um tal Pires de Lima, depois de gerir empresas onde é fácil obter lucros tornou-se num sério concorrente da santinha da Ladeira, semana sim, semana não descobre mais um milagre.
  
Seguro é um grande intérprete das conclusões da teoria dos jogos aplicáveis ao modelo político português, se os governos caem por si e não pelas alternativas que se apresentam é uma maçada ser líder da oposição. Seguro vai gerindo o tempo, aparece de vez em quando, quando não lhe apetece manda o Brilhante dizer umas baboseiras de ocasião. Uma legislatura é uma seca, não é fácil fazer-se de conta que se é oposição e ao mesmo tempo acalmar os ímpetos do aparelho partidário que se quer chegar à manjedoura.

A democracia é pervertida, os governos limitam-se a geria a imagem e a adoptar políticas segundo um critério eleitoralista, os verdadeiros candidatos a primeiro-ministro em vez de proporem alternativas ocupam-se em cargos de recuo, aguardando o momento em que se espera que o governo caia para se conquistar a liderança dos partidos. Nem no partido do governo, nem nos da oposição os verdadeiros candidatos à próxima disputa eleitoral dão a cara, primeiro-ministro e líder da oposição limitam-se a fazer o frete de se arrastarem nas funções.
  
Neste jogo sujo em que se transformou a política portuguesa perde a democracia e o país. Os portugueses acreditam cada vez menos numa classe política pouco sincera que em vez de discutir alternativas se especializou em golpes baixos. O país em vez de ser gerido de acordo com propostas consistentes tem governantes que primeiro ganham e depois vão perguntar aos amigos qualificados o que deverão fazer.
  
Não admira que neste jogo em vez de ganharem os melhores políticos e os melhores projectos acabam por ganhar os políticos que têm melhor imprensa. O problema é que em Portugal ter melhor imprensa significa não ter sido emporcalhado na comunicação social e para isso é conveniente ter muitos amigos na comunicação social e poucos inimigos no Ministério Público.
  
O resultado é óbvio, Portugal é governado por marionetas dos jornalistas e dos magistrados do Ministério Público, a melhor forma de chegar ao poder não é propor o melhor para o país pois isso seria um sacrifício, a melhor forma de conquistar o poder é garantir aos lóbis mais poderosos que os seus interesses não serão tocados. Na verdade os governos portugueses não caem, são derrubados pelos jornalistas e pelos magistrados.