Depois do milagre conseguido com a alteração da legislação laboral conseguida pelo Sôr Álvaro, resultado de um laborioso acordo de concertação social só viável graças à preciosa influência do mais conhecido dos condóminos da Quinta das Conchas, conhecido retiro de alguns famosos bpnistas, tenta-se agora um segundo milagre liberalizando o despedimento. A lógica é simples, se com a primeira alteração da legislação laboral se conseguiu o emprego que se viu, com a nova alteração Portugal assistirá a um novo milagre económico a anunciar pela Santinha da Quinta da Horta Seca, a santinha milagrosa que forçou a Santinha da Ladeira à emigração.
Se a memória não me engana, o acordo de concertação social tão exibido por esse mundo fora como um sucesso do ajustamento português iria criar o milagre do investimento e do emprego, o sucesso era tanto que as fontes de Belém depressa se encarregaram de tirar os louros ao Sôr Álvaro, fazendo saber que Cavaco se tinha desdobrado em influências junto da rapaziada do PS, sector da sociedade em que, como todos sabem, o senhor é muito apreciado e admirado. Os resultados foram tão bons que o governo se dispensou de aplicar as medidas que assumiu no acordo e dois anos depois, agora com a presença da Santinha da Horta Seca, tenta-se um segundo acordo.
Com tanta negociação começa a ser evidente que começa a ser mais necessária a consertação social do que a tão propalada concertação, com o desemprego em níveis nunca vistos apesar do abandono em massa dos trabalhadores mais qualificados a sociedade começa a precisar mais de conserto do que de acordos que não se cumprem a não ser nos que se refere às cláusulas que favorecem os patrões, servindo apenas para que os ministros do mini-governo centrista o exibam junto dos investidores.
A verdade é que o anterior acordo foi apresentado como um sucesso por quem não o cumpriu ou não forçou o governo a cumpri-lo, como a criação de emprego tão prometida não ocorreu. Na ocasião disseram que a reforma laboral aproximava Portugal da Europa, agora parecem querer aproximar Portugal da China, se esta não resultar é muito provável que o jovem líder da PSD se lembre de fazer aprovar no parlamento um referendo em que se vai perguntar aos portugueses se acham que a reintrodução da escravatura ajudará a criar empregos, até porque como se vê com as praxes a nossa direita tem um grande apego às velhas tradições e aquele jovem até já defendeu que todos os direitos podem ser referendáveis, todos não, deverá ficar de fora o direito de não aturar canalhas.
O sucesso português é algo estranho, conseguiu-se um grande sucesso nas contas públicas mas o défice não fica abaixo do nível pornográfico dos 5%, a revisão da legislação laboral era uma maravilha para o investimento mas não atraiu um único investidor, Portugal está na moda mas quanto a investidores estrangeiros só aparecem russos e chineses em busca de passaportes dourados, um dia deste Marbella ainda se vai queixar de que as máfias a abandonaram.
O milagre que foi anunciado pela Santinha da Horta Seca não para nos surpreender, Portugal perdeu meio milhão de empregos, os funcionários públicos e os pensionistas foram esfolados, as empresas pagam pior até aos seus gestores, a dívida passou de menos de 90% do PIB para cerca de 130%, a segurança social está sendo espoliada de recursos e usada para comprar dívida considerada lixo, mas os portugueses são um povo cheio de sorte, já tinham a Nossa Senhora de Fátima e os três pastorinhos, agora tem os quatro ministros do CDS, um inventa milagres e os outros armam-se em pastorinhos e partem em busca de devotos, até já inventaram um milagre com direito a cronómetro, o equivalente religioso ao mercado dos futuros, tão apreciado pelos mbas do governo no tempo em que eram gestores de empresas públicas.