Ouço na televisão um vice-presidente de uma confederação de pais que faz lóbi pelo financiamento dos colégios privados com o falso argumento da livre escolha das escolas, pronunciando-se sobre as praxes. Dizia o senhor que as praxes são importantes para a integração dos novos alunos nas escolas, isto é para que um jovem seja integrado num ambiente universitário deve ser alvo de tratamentos humilhantes ou, pelo menos, ridículos. Tanto quanto sei nas boas universidades portuguesas há programas de integração e de recepção e nenhum deles inclui sessões de humilhação na Baixa de Lisboa.
O que justificará esta abordagem simpática por parte de alguns sectores da sociedade portuguesa em relação às praxes?
A verdade é que a direita portuguesa sempre gostou das praxes e nas universidades essa clivagem sempre foi evidente, não é por acaso que as praxes são apresentadas como a recuperação de uma tradição, o que em muitas universidades é uma falsidades, começando pelas universidades privadas (exceptuando a Católica) onde a única tradição que existe é a de ganhar dinheiro fácil à custa da mania portuguesa de se ser doutor a qualquer custo.
Não admira que foram necessários muitos dias desde que surgiram as primeiras notícias relacionando seis mortes com as praxes até que algumas autoridades começassem a dar sinal de vida, na verdade se não fosse o facto do clamor ter ultrapassado os sectores da esquerda, este assunto estaria abafado e a morte de seis jovens teria sido resultado de um acidente no âmbito de uma praxe, como se isso fosse tão natural como uma embolia durante uma cirurgia. A verdade é que o primeiro-ministro não disse uma palavra sobre o assunto e o Presidente da República tão dado a falar de jovens ignorou totalmente o assunto, até parece que aconteceu em Espanha.
Compreende-se a atitude da direita, as praxes são mais extremistas nas universidades onde a direita trauliteira mais domina e é nas muitas falsas universidades criadas pela direita que agora governa que ocorrem as práticas mais extremistas, sabendo-se agora que promovidas por modelos de organização que parecem resultar de um casamento entre os treinos da al Qaeda e da ideologia dos camisas negras do Duce Mussolini. É natural que num governo onde dominam a Lusófona e a Lusíada se fuja do assunto, foi nestas universidades que ocorreram mortes provocadas por treinos e lavagens ao cérebro feitas ao abrigo das praxes.
Fui estudante universitário e não me recordo de praxes em económica e nunca tive conhecimento de qualquer tradição universitária que envolvesse risco de vida, lavagens ao cérebro, modelos de organização iguais aos das organizações terroristas ou missas campais. Felizmente sou de uma geração universitária que rejeitou valores ultrapassados, para os da minha geração um canudo não torna ninguém num ser superior e a indumentária típica da viuvez é um símbolo ridículo de distinção.
Mas à direita miserável deste país não bastou o saneamento nas Forças Armadas e o desprezo pela Constituição da República, é preciso promover uma limpeza ideológica a todos os níveis, a começar por aqueles que irão constituir as elites. É esta limpeza que vou ao ressurgimento em força das praxes, com a colaboração de reitores e até dos cardeais que adoram rezar missas no campus universitário garantindo que os universitários farão parte do rebanho.
Mas desta vez as coisas correram mal, o governo lá vai organizar uma reunião da treta e daqui a uns dias todos os processos serão arquivados a aguardar melhor prova. Acima da vida dos seis jovens estão os interesses financeiros dos negócios universitários e a limpeza ideológica de um país que um dia ousou sonhar ser como qualquer país europeu.
A forma quase indiferente como reagiu muito boa gente é mais ou menos a mesma com que Passos Coelho, Cavaco Silva e outros membros do poder encaram os sacrifícios impostos ao governo. Não há diferença nenhuma entre o discurso com que Passos jutificou os sacrifício a determinados grupos sociais e o discursos dos dux das praxes académicas, até se fica com a impressão de que o país foi praxado por ter feito coisas de que o dux Passos Coelho não gostou.
No Meco morreram seis jovens, no país morreram mais e muitos mais foram expulsos de Portugal. Se analisarmos bem não há diferença nenhuma entre a justificação da praxe do Meco e a da justificação da política do governo, e da mesma forma qe a mãe de uma das vítimas dizia que a filha terá morrido feliz porque estava trajada, também este governo celebra a austeridade em festa ao mesmo tempo que muitos portugueses choraram ao ler o seu recibo de vencimento. Alguns dos membros deste governo aprenderam muito mais sobre praxes na Lusíada ou na Lusófona do que política económica ou sociologia, em vez dos valores da solidariedade e da fraternidade, optaram pelo prazer da humilhação e sacrifício alheio.
A forma quase indiferente como reagiu muito boa gente é mais ou menos a mesma com que Passos Coelho, Cavaco Silva e outros membros do poder encaram os sacrifícios impostos ao governo. Não há diferença nenhuma entre o discurso com que Passos jutificou os sacrifício a determinados grupos sociais e o discursos dos dux das praxes académicas, até se fica com a impressão de que o país foi praxado por ter feito coisas de que o dux Passos Coelho não gostou.
No Meco morreram seis jovens, no país morreram mais e muitos mais foram expulsos de Portugal. Se analisarmos bem não há diferença nenhuma entre a justificação da praxe do Meco e a da justificação da política do governo, e da mesma forma qe a mãe de uma das vítimas dizia que a filha terá morrido feliz porque estava trajada, também este governo celebra a austeridade em festa ao mesmo tempo que muitos portugueses choraram ao ler o seu recibo de vencimento. Alguns dos membros deste governo aprenderam muito mais sobre praxes na Lusíada ou na Lusófona do que política económica ou sociologia, em vez dos valores da solidariedade e da fraternidade, optaram pelo prazer da humilhação e sacrifício alheio.