Esta
máxima da Administração Pública sintetiza a forma de exercício da austeridade,
os chefes mandam, os subordinados obedecem. Infelizmente esta fórmula de obediência
cega não raras vezes cobarde está a generalizar-se à sociedade portuguesa, em
particular ao mundo do jornalismo.
Quando
o Expresso produziu sucessivas notícias sobre o processo de corrupção que no
Brasil ficou conhecido por “mensalão” Ricardo Salgado, o agora atrapalhado
presidente do BES, ameaçou o semanário de o excluir dos seus investimentos
publicitários. Os responsáveis e donos do Expresso encheram o peito para afirmar
a independência do jornalismo mas a verdade é que o assunto mensalão
desapareceu das páginas do Expresso e da generalidade da comunicação social
portuguesa.
O
mensalão serviu para demonstrar quem manda na comunicação social e nos
jornalistas portugueses. Os jornais são financiados pelos grandes orçamentos
publicitários e enquanto as empresas que financiam os jornais e televisões
assim o desejarem a comunicação social obedece-lhes. Procure-se uma notícia
negativa para empresas como a EDP ou os grandes bancos e logo se percebe quem
manda nos jornalistas. Alguém acredita que o grande protagonismo de Eduardo
Catroga na comunicação social resulta dos seus dotes de comentador ou do valor
intelectual de baboseiras como a dos pentelhos?
Veja-se
o caso do novo golpe decidido pelo governo, o alargamento da taxa adicional de
IRS sobre as pensões que o governo cinicamente designou por contribuição de
solidariedade, como se quem precisa de solidariedade é o país e não os idosos.
Algum jornalista explicou a decisão, denunciou a criação de um novo imposto?
Os
nossos jornalistas optaram por intoxicar a opinião pública com a mensagem
governamental de que se evitou um aumento dos impostos. A maioria dos jornais
nem sequer pôs a afirmação na boca dos ministros, fizeram sua a mensagem
governamental e a maioria dos jornais noticiaram a ideia como se tivesse sido
um grande favor feito pelo governo aos portugueses.
Manda
quem pode e obedece quem deve, os jornalistas defendem o seu próprio ordenado,
os lugares nas comitivas governamentais e presidenciais, os investimentos
publicitários, a presença nos jantares pagos com cartões Visa dando mostras de
obediência. Enquanto as EDPs continuarem a beneficiar de milhões, enquanto os
patrões da comunicação social continuarem a ter benesses governamentais sob a
forma de um novo canal ou de constrangimentos à RTP, enquanto tudo isso suceder
quem manda na comunicação social e nos jornalistas é quem pode e quem pode é o
governo.