terça-feira, janeiro 28, 2014

Síndroma de Estocolmo

Um dos aspectos mais interessante do que por aí se vai passando são as posições assumidas em relação à forma como Portugal deverá sair do programa de ajustamento. Estamos assistindo a algumas manobras interessantes que vale a pena acompanhar.
  
Cavaco Silva tomou posição muito cedo, depois de ter tentado forçar o PS a ser a ala liberal do seu governo com o argumento da necessidade de um acordo pós-troika veio defender a necessidade de um programa cautelar. Cavaco não explicou porquê ou em que dados económicos se estava a fundamentar para tentar forçar o país a tal solução. Como se viu pelas conclusões da última reunião do Eurogrupo a conclusão de Cavaco não tinha qualquer base económica.
  
Tal como Cavaco a Comissão Europeia também se desdobra em manobras para que o governo português se encaminhe para a solução do programa cautelar, até mandou o Olli, o químico da austeridade, dizer umas bojardices em Lisboa apontando para a mesma solução. Sá não se percebeu se a Comissão teve a iniciativa ou se articulou a sua manobra com gente de Lisboa.

Também não faltam os “economistas” que vão às televisões dizer umas baboseiras com ar de grande seriedade, defendendo a programa cautelar e de preferência com o PS a assinar de cruz tudo o que Durão Barroso exigisse ao país.
  
Do outro lado, sem se perceber muito bem qual a posição está o governo de Passos Coelho, tudo leva a crer que está dividido entre o cronómetro do Paulo Portas e o conforto ideológico de um programa que teria como objectivo limitar o funcionamento da democracia, na medida em que os portugueses iriam votar apenas nos palhaços que teriam como função aprovar tudo de olhos fechados, com o argumento de que constava no programa cautelar, ou, o que é mais certo, nas sucessivas revisões do programa cautelar.
  
A verdade é que a direita está dividida entre livrar-se da troika ou defender a bondade da troika e continuar acomodada à sua protecção ideológica. Correr com a troika dá votos, mas um programa cautelar poderia significar a transformação das papetices ideológicas de Passos Coelho em programa nacional para mais um período de tempo ilimitado.
  
A direita sofre do síndroma de Estocolmo, fala muito em libertar-se da troika mas nutre sentimentos de simpatia para com o raptor, ao ponto de quase preferir que o país continue raptado pela troika do que livre da sua tortura.