Não se sabe muito bem o que é feito do famoso guião para a reforma do Estado, um famoso documento produzido ainda no tempo do Moedas que o governo pediu para o FMI assinar por baixo e depois foi entregue ao Paulo Portas para implementar, uma tarefa que foi um prémio para a revogabilidade das suas decisões irrevogáveis. Mas começa a ser evidente que na impossibilidade de destruir o Estado e sem poder levar à prática a revisão constitucional que em tempos foi encomendado ao Paulo Teixeira Pinto o governo decidiu destruir o Estado.
O Estado de hoje é uma organização em perda acelerada de qualidade, que paga a quadros superiores salários pouco acima dos que usufruem as empregadas domésticas e que neste anos foi abandonado por muitos milhares técnicos altamente qualificados que preferiram a reforma antecipada a suportar esta invasão de bárbaros que lhes entrou pelos gabinetes dentro.
O Estado que era um viveiro de técnicos que alimentava o sector privado foi transformado numa segunda escolha para os jovens em busca de emprego que ainda não abandonaram o país. Muitos destes jovens não atingirão os patamares de excelência técnica que o Estado proporcionava no passado porque com a oficialização dos boys por falsos concursos e com o abandono dos melhores quadros a Administração Pública é o reino da burocracia.
Destruída o Estado na sua competência era necessário destruí-lo no seu outro alicerce, o da autoridade e foi isso que sucedeu nos últimos dias. Surpreendido pelas notícias e sem explicações para dar a solução foi achincalhar os serviços públicos, atribuindo-lhes todas as culpas. O país viu um ministro usar os seus serviços para limpar a ficha contributiva do primeiro-ministro. Por outro lado, os que aplaudiam o combate à evasão fiscal ficaram com a percepção de que há dois pesos e duas medidas na aplicação da lei fiscal.
Ainda por cima há chefes de serviços que andam por aí a assustar estagiários com bolsas VIP enquanto os jornais dão conta de vagas de centenas de processos disciplinares abertos a funcionários acusados de voyeurismo fiscal. Os funcionários já eram acusados de incompetência, depois começaram a ser acusados de brutalidade nas penhoras, agora são voyeurs que não respeitam o sigilo fiscal. De um dia para o outro a máquina fiscal que nada tinha que ver com as dívidas ou supostas dívidas de Passos Coelho à Segurança Social passaram a ser os maus da fita. E se foi o governo que começou esta grandiosa obra da destruição da credibilidade do Estado e dos seus serviços, agora também já é a oposição a fazer surf nas costas dos serviços públicos.