Há algo de errado neste país, os nossos idosos não querem descansar e enquanto na China a liderança já vai apresentando gente de meia idade, por cá os nossos cotas agarram-se ao poder com unhas e dentes. Na América os grandes empresários vendem ou passam aos filhos o que ganharam, dão metade a fundações e vão gozar a vida para a Florida, por cá arrastam-se até que a Parkinson ou o Alzheimer lhes diga basta.
Há qualquer coisa de errado quando de um lado se acusa o sistema de não respeitar a terceira idade, de exigir que se trabalhe para além dos 65 anos e, do outro lado, vemos cada vez mais idosos a serem protagonistas na comunicação social, na política e até nos duelos eleitorais, pior ainda, alguns dos mais idosos assumem mesmo um papel de liderança.
Na banca temos (ou tínhamos) figuras como Ricardo Salgado (71 anos) ~e Jardim Gonçalves (79 anos), na comunicação social temos Manuela Ferreira Leite (74), Medina Carreira (74), na política activa temos Henrique Neto (79), Mário Soares (85), no mundo empresarial temos Belmiro de Azevedo (77), Américo Amorim (80) e Alexandre Soares dos Santos (80). A lista poderia prosseguir, mas estes nomes são suficientes para percebermos como esta geração de octogenários tem um grande pesos na gestão dos destinos do país e mesmo na opinião pública. E nem vale a pena falar no casal Silva, porque esse par ainda não deve ter perdido a esperança de a Nossa Senhora de Fátima lhes dar mais duas décadas para nos chatearem.
É evidente que não podemos decretar uma idade de reforma ou proibir um idoso, ainda por cima alguns deles são os mais ricos deste país de pobres, a ficarem calados ou a darem o lugar aos outros. Mas a verdade é que em muitas empresas são impostos limites de idade e na Administração Pública só mesmo a título excepcional se permite que alguém trabalhe para além dos 70 anos.
Um bom exemplo deste fenómeno foi a apresentação da candidatura dessas personagem que só neste país é ouvido que se dá pelo nome de Henrique Neto e por mais que odeie o PS ou quem lá está insistem em apresentar-se como militante de um partido do qual tem sido um dos seus maiores adversários e inimigos, Vimos um cota falar para uma plateia de cotas, onde se notava Arnaldo Matos, o homem que se autointitulava grande educador do proletariado. O discurso de Henrique Neto foi um discurso cheio de banalidades, onde o futuro estava ausente.
Quantos jovens com menos de 30 anos têm paciência para ver as caretas assustadoras de Manuela Ferreira Leites, os vómitos de ódio de Henrique Neto, as loucuras de Mário Soares, o discurso moralista do merceeiro que fugiu para a Holanda ou os anúncios dos cataclismos do Medina Carreira. Esta gente não percebe que já não diz nada a uma boa parte dos portugueses e que o domínio que exercem na política, nas academias ou na comunicação social só serve para impedir o aparecimento de gente mais jovem, com novas ideias, novos conceitos estéticos, novas soluções.
Eu compreendo que depois de vermos a entrevista que a Joana Amaral Dias deu à RTP Informação a nossa crença nos mais jovens sofra um forte abalo. Mas a verdade é que nem todos os jovens são militantes do velhinho BE em busca de um tacho que os mantenha à tona, há muitos jovens que sabem fazer muito mais do que endireitar as costas para levantar as poitrines (coisa que como se sabe deu um grande contributo eleitoral para o BE), que sabem falar de economia, que vão além das banalidades iguais às do Henrique Neto para falar dos problemas do país.
Não é só o governo que está dizendo aos nossos jovens que estão a mais em Portugal, uma boa parte da sociedade portuguesa está impondo ao país um modelo político económico gerido por idosos porque a desconfiança em relação à aptidão dos jovens é uma mania muito portuguesa. Neste dizemos sempre cobras e lagartos, não admira que a geração que recomenda a terceira classe antiga insista em não abandonar o poder e quando isso suceder os que os substituírem estarão tão velhos quanto eles e teimosos como de costume.