É óbvio que Marcelo deixou que a comunicação social soubesse
do almoço que teve com Santana Lopes e o tornasse público e isso só pode ser
interpretado como uma mensagem subliminar do Presidente da República aos
militantes do seu partido de que o seu escolhido para suceder a Passos Coelho é
o até qui Provedor da SCML. Mas isso significa que Marcelo Rebelo de Sousa
deseja ou espera ver Santana Lopes como “seu” primeiro-ministro?
Santana é tudo o que Marcelo não é ou mesmo o que Marcelo nunca
teria desejado ser, para não dizer que Santana é o oposto daquilo que aprecia.
Santana tem sido um apoiante mais ou menos militante de Passos Coelho, só não o
tendo apoiado na candidatura autárquica a Lisboa porque se queria resguardar
para uma eventual candidatura à liderança do PSD após as autárquicas. Santana
foi o vice-presidente do PSD nos tempos de Durão Barroso que, por sua vez,
rasteirou Marcelo para o substituir na liderança do PSD. Santana foi uma peça
chave na ascensão de Durão Barroso, chegando mesmo a reunir o mundo da bola num
jantar de apoio a Durão.
Como se tudo isto não fosse suficiente para Marcelo desejar
ver Santana pelas Costas o Presidente da República não deverá estar esquecido
de como o governo itinerante de Santana tem algumas semelhanças com a sua
presidência, ainda que com menos selfies, porque na época ainda não existiam.
Imaginemos um país com um Presidente se agenda para andar a dar beijinhos e o
primeiro-ministro a fazer o mesmo para dar mais beijinhos do que o Presidente.
Aliás, Santana nem sequer esconde a colagem à estratégia dos afetos de Marcelo.
O país seria um manicómio, com a vida política transformada em concursos de
beijinhos, com a nota técnica a premiar que desse mais beijocas e a nota
artística a avaliar a convicção dos beijoqueiros.
É óbvio que Marcelo não se quer queimar com Santana Lopes
como primeiro-ministro, depois de o apoiar ter que o despedir, como o fez Jorge
Sampaio, era demasiado perigoso para a sua própria Presidência. É bem mais
provável que percebendo que o PSD terá muitas dificuldades em chegar ao
governo, Marcelo aproveite para se livrar não só de Santa Lopes, mas também de
Rui Rio, pondo fim a uma geração de líderes e candidatos a líderes que
representaram para o PSD o mesmo que a praga da filoxera representou para a
vinha.
Depois das malandrices que Marcelo fez a António Costa e do
apoio que deveu a Santana Lopes ninguém o poderá acusar de não ter apoiado o
seu partido. Aliás, os que durante meses protestaram, contra o apoio de Marcelo
à Gerigonça são agora os que mais festejam as posições do Presidente da
República. Marcelo vai chegar à noite das eleições legislativas como um dos
vencedores, isto se nessa noite Santana se demitir da liderança do PSD e Rui
Rio anunciar que não volta a ser candidato a líder. Marcelo terá condições para
ser ele a renovar o PSD sem Santana, Rui Rio e outros sexagenários a empatar.