Os que a troco de benesses fecharam os olhos durante várias décadas ao que estava sucedendo nas florestas têm a sua quota parte de culpas.
Os que governaram a pensar nos favores à indústria do papel usando a pasta da Agricultura para fechar os olhos à desordem florestal, para nomear altos dirigentes do Estado amigos dos interesses privados ou a adotar leis feitas por encomenda são culpados por estas mortes.
Todos os proprietários de terrenos que por ignorância ou por mera ambição promoveram processos de florestação sem cuidar da segurança dos seus vizinhos são culpados.
Os cidadãos que andam a atear fogos, que fazem queimadas irresponsáveis, que atiram lixo para as florestas, que fazem piqueniques nas matas sem o mais pequeno cuidado, todos são culpados.
As entidades que deveriam aplicar as leis que obrigam a respeitar distâncias de segurança entre as florestas e as estradas, as linhas elétricas ou as habitações e que ao longo de anos fizeram vista grossa, num país onde por dá cá aquela palha se multa invocando o código da estrada, são culpados.
As entidades que perante tantos incendiários à solta e tantos agricultores irresponsáveis que fazem queimadas nos dias de maior risco de incêndio, ignoraram os sinais de perigo e não adotaram as necessárias medidas de policiamento das zonas florestais são culpados.
Todos os que no desempenho de cargos públicos estiveram mais preocupados em nomear amigos do que em escolher os melhores e mais competentes para servirem o país em serviços de grande responsabilidade e risco, são culpados.
Não vale a pena mitigar as culpas ou concentrá-las numa ministra, foram muitos os responsáveis pelo que sucedeu. Quantas vezes nas centenas de vezes que fez comentários televisivos o agora Presidente da República chamou a atenção para a necessidade das medidas que agora exige? Co o que é que esteve mais preocupado Marcelo Rebelo de Sousa quando foi líder do PSD, com o aborto ou com os incêndios e outros grandes problemas nacionais, com o que dava votos a curto prazo ou com os problemas do país? O que fez Assunção Cristas para adaptar o modelo florestal à nova realidade climática?
Todos os presidentes foram culpados, todos os primeiros-ministros foram culpados, todos os ministros da agricultura foram culpados, alguns dos cidadãos das nossas aldeias e que agora são vítimas também foram corresponsáveis na tragédia, os jornalistas que, como Miguel Sousa Tavares, sabem falar muito bem mas só depois das tragédias sucederem, fazendo-o mais por vaidade do que por outra coisa, são igualmente culpados.
São culpados os que não agiram para resolver os problemas, os que se calaram porque só falam quando lhes pagam para falar, os que governaram a pensar em interesses, os que sendo incompetentes aceitaram os lugares, todos são culpados.