Passos não partiu por causa da derrota do PSD nas eleições autárquicas, mas sim por causa da vitória do PS e da esquerda nessas eleições. Parece a mesma coisa, mas no caso de Passos Coelho não é bem assim.
Passos Coelho bateu-se violentamente contra as chamadas reversões, designadamente aquelas que estavam destruindo os alicerces do seu projeto político. Convencido de que uma crise financeira ou uma crise política conduziria a um segundo resgate, Passos Coelho esperava que isso sucedesse a tempo de recuperar as medidas mais emblemáticas do seu governo, a preparação dos despedimentos em massa no Estado, os cortes dos vencimentos e a proletarização forçada da Função Pública, os cortes nas pensões, e as reformas na legislação laboral que forçassem uma desvalorização dos salários no setor privado.
Centeno trocou-lhe as voltas, graças a um controlo rigoroso da despesa evitou as consequências das armadilhas que Passos e Paulo Núncio montaram para provocar uma quebra de receitas fiscais em 2016. A situação económica europeia fez o resto, apesar de uma política fortemente restritiva a economia cresceu acima do que se esperava. A não ser que Marcelo se arme em líder da oposição e promova uma crise, o governo vai chegar ao fim da legislatura e António Costa estará no próximo governo.
Em vez de um segundo resgate que levaria Passos ao poder e de novo com carta branca para governar como se tivesse os poderes do Pinochet, o país saiu do procedimento dos défices excessivos e, de forma surpreendente, a S&P deixou de considerar como lixo a dívida portuguesa. Os alicerces da reformatação económica e social serão totalmente demolidos com o OE de 2018. Passos perdeu as autárquicas, mas também perdeu a esperança de retomar o governo no ponto em que estava e novamente com uma troika a apoiá-lo na sua experiência económica.
Mesmo que Passos persistissem em liderar o PSD estaria a tentar ser primeiro-ministro numa situação que não era a que desejava, governar apoiado numa intervenção externa, como os amigos do BCE e como Vítor Gaspar no FMI. Passos habituou-se a governar com o medo e com a chantagem, ignorando o Tribunal Constitucional, chamando piegas aos portugueses, contando com um banana em Belém e rebaixando o seu parceiro de coligação como fez com o irrevogável Portas.
Passos não esperava eleições antecipadas, esse era o único cenário em que acreditava para ganhar eleições e poder continuar a sua obra. Destruído tudo o que fez e sem esperança de ganhar eleições que não sejam as antecipadas, Passos prefere deixar o PSD entregue a Rio ou a Santana, enquanto que vai em busca de um qualquer Ângelo Correia que lhe dê de comer até à próxima oportunidade.