Segundo os bons princípios da filosofia do tão nacional politicamente correto o povo é uma entidade sábia que decide em plena consciência que é ainda melhor e mais inteligente do que Cavaco Silva, este raramente tem dúvidas e nunca se engana, o nosso povo nem sequer tem dúvidas. Vai ganhar o PSD ou o PS? Não se incomodem, na hora o povo melhor saberá e decidirá o melhor para o país, reunir-se-á em plenário, fará as suas escolhas e decidirá quem ganha e se deve ganhar com maioria absoluta ou se defenderá uma coligação.
O estranho é que os mesmos que no dia seguinte a todas as eleições asseguram que o povo decidiu de forma sábia, porque se recusou a meter os todos os ovos no mesmo cesto, porque elegeu o presidente na primeira volta para não se perder tempo, porque não deu nenhuma maioria absoluta ou porque decidiu uma maioria absoluta, passem o tempo a tentar influenciar o povo.
Há uma outra característica do povo, quanto mais pobre mais sábio e honesto, para os marxistas-leninistas, o proletariado, os mais pobres nos finais do século XIX, era os puros, os que não estavam corrompidos pela burguesia e por isso líder comunista que se preze, como o nosso Jerónimo, deve ter origem proletária. Para os cristãos só os pobres passam pelo buraco da agulha. E ainda esta semana Rui Rio assegurou que os mais pobres são os que melhor interpretam os interesses nacionais.
Depois há o que usando os códigos penais ou os tanques acham que o melhor é poupar o povo a grandes raciocínios e optam por ser eles a decidir. Alguns, mais condescendentes com a ignorância popular optam por os esclarecer e formar as opiniões. Se o resultado for o mesmo sempre é melhor o voto do que o golpe.
Estes são tempos difíceis e pela primeira vez há quem defenda que talvez o povo não seja assim tão sábio, a escolha de Isaltino em Oeiras pode ser um exemplo. Mas os mais fundamentalistas poderão ir ao jargão marxista-leninista e recordar a desconfiança em relação à “pequena burguesia”, esse grupo social fácil de se corromper. Isso explicaria que num dos concelhos com uma média de rendimentos mais elevada e com mais licenciados por metro quadrado, se tenha escolhido alguém que só no Burundi teria ressuscitado.
Talvez por isso Jerónimo de Sousa foi o primeiro político português a assumir publicamente que considera os seus eleitores um pouco lerdos, dizendo na noite eleitoral que se iriam arrepender das escolhas. Como é possível que depois de 30 anos de educação autárquica exemplar os eleitores tivessem mudado de opinião, como sucedeu em Almada?
Vivemos tempos confusos e não admira que as sondagens deixem de ser confiáveis, talvez por isso Santana Lopes garante que a sua candidatura foi uma boa notícia para o país, a par de uma vitória num jogo de futebol e acrescente que vai governar durante duas candidaturas, sinal que está bem de saúde física. Com a infinita sabedoria do nosso povo é bem capaz de ter razão.