terça-feira, novembro 07, 2017

CEM ANOS

Por várias vezes comecei a escrever um post sobre o comunismo, e quase tantas outras desisti, pelo caminho li o artigo de Jerónimo de Sousa no DN. Acabei de ler o artigo e dei comigo a pensar sobre qual o motivo que um metalúrgico consegue ver a partir de Lisboa no ano de 2017 aquilo que tantos milhões de cidadãos do Leste da Europa não viram, logo eles que foram os grandes beneficiários de tantas maravilhas que o líder do PCP descreve.

Não gosto de falar sobre comunismo, aliás, é a única ideologia de que não gosto de falar. Não gosto porque falar de comunismo ou de uma religião é quase a mesma coisa, se discordamos somos tratados como infiéis, se nos aproximamos dizem que somos pequeno burgueses, microempresários ou intelectuais progressistas, gente que ainda não foi dominada totalmente pelo pecado do capitalismo e por isso é recuperável.

Irrita-me discutir com quem considera que foi iluminado por uma luz e se sente no direito de julgar e avaliar os que estão á volta em função da capacidade que têm para também verem essa luz. Esse é o mecanismo mental de todas as religiões, é esse desprezo pelos que não são iluminados que levaram a tantas mortandades, perpetradas por doentes mentais religiosos ou ideólogos como Pol Pot.

É um bocado difícil discutir o que se passa, por exemplo, na Coreia do Norte, em público faz-se silêncio, em privado justificam-se todos os crimes de uma monarquia de doentes mentais com pressões vindas do exterior. Justifica-se tudo com o progresso, o artigo de Jerónimo de Sousa são parágrafos atrás de parágrafos negando o que não se quer discutir, lançando anátemas sobre todos os que ousem questioná-lo e exibindo os grandes progressos. Mas a verdade é que não faltam no mundo muitos exemplos de progressos espetaculares que não precisam de esconder nada.

Era interessante se em vez desse marxismo-leninismo (e estalinismo, maoismo ou trotskismo envergonhados) se discutisse Marx e, principalmente, a sua grande obra, O Capital. Seria bom que se discutisse como é que uma economia capitalista de um grande país industrial pode evoluir para o comunismo e se as conclusões económicas de Marx são ainda válidas. Para quem gosta de ver em Lenine um grande teórico, seria interessante discutir se as suas ideias sobre o respeito pela vida humana e sobe as metodologias de conquista do poder são compatíveis com os valores das sociedades de hoje.

Seria interessante ler Lenine a um jovem europeu, ou as citações do livro vermelho de Mao, e perguntar-lhe o que pensa disso enquanto forma de alcançar uma sociedade que consideram superior. Seria também interessante se o PCP nos explicasse se é leninista quanto à conquista do poder ou se respeita a Constituição de Abril acima dos valores e princípios do leninismo.

Mas também seria de grande interesse se nos explicassem se os ideólogos atuais do comunismo já encontraram as soluções para o funcionamento de uma economia comunista, se já resolveram os problemas sobre o preço e o valor, se já encontraram mecanismos para que uma economia planificada funcione melhor do que a economia de mercado.

Tenho muitas dúvidas de que alguém aceite discutir tudo isso, é mais provável que evitem o debate reagindo com acusações de paganismo.