segunda-feira, novembro 27, 2017

DOIS ANOS DE GOVERNO

Se fosse uma criança o Governo já saberia falar e a andar, como vai a meio da legislatura digamos que já é adulto, ainda que pela forma como tem adoptado algumas decisões isso não pareça..

Por coincidência, António Costa decidiu festejar os seus dois anos de governo fazendo declarações infelizes na Tunísia acerca dos funcionários públicos, enquanto em Lisboa o ministro da Saúde dizia quase a gaguejar e em passo de corrida que os funcionários do INFARMED seriam forçados a emigrar para o Porto daqui a dois anos.

Ainda não entendi muito bem porque motivo os governos têm de festejar aniversários, o bom seria que festejassem a legislatura e conseguissem voltar a ganhar pelo menos os votos daqueles que neles confiaram. A crer nas sondagens isso até vai ser possível, pelo que poderiamos acabar com a tradição das reuniões parolas de festa de aniversário iniciadas pelo homem de Boliqueime, governante e presidente de muito má memória. E as reuniões são uma parolice cavaquiana, as sessões com os governantes sentados com ar de enfado, o da Administração Interna ia mesmo passando pelas brasas, como o primeiro-ministro a dizerm que responde apenas servem para discutir os critérios de escolha dos "cidadãos anónimos".

Pessoalmente não tenho muito para festejar, para além de algum sucesso e tranquilidade económica que se deve mais à confiança que Mário Centeno transmite do que aos outros artistas, que ontem estiveram sentados atrás do primeiro-ministro. Para além do sucesso nas finanças, que arrasta o sucesso dos titulares de pastas como o da Economia ou da Segurança Social, temos que aceitar que este governo esgotou uma boa parte das energias com o Mário Nogueira, a Catarina Martins, o Jerónimo de Sousa ou com a Mariana Mortágua. 

Gostaria de ver um governo mais dinâmico, um ministro da Educação explicar quais as suas ideias e projetos, o que pode fazer agora que lhe passou o almareio, um ministro da Economia a dinamizar projetos para além das presenças na Web Summit, um ministro das Obras Públicas a dizer que planos há a médio prazo. Gostaria de ver todos a fazer as centenas de pequenas reformas, de eliminação de milhentos esquemas de burocracia montados para lixar as empresas e cidadãos, cravando-lhes taxas e multas. Mas não vejo, temos passado a segunda metade do ano a discutir e negociar o próximo orçamento e a primeira a ver se tudo corre bem com as contas públicas.

É pouco, não basta o equilíbrio orçamental para que tudo se resolva, essa é a forma de pensar dos defensores do governo anterior, cortava-se a torno e a direito e depois de podada a economia acontecerias como com a vinha, iria dar uva com fartura. Não basta dizer que se devolveram rendimentos, até porque aqueles que foram vítimas de cortes de vencimentos e pensões sabem fazer contas e perceber que isso não é verdade. Além disso, António Costa tem de mudar de discurso, desde quando cumprir a lei, isto é, os acórdãos do TC é fazer um favor?

O governo devia ter comemorado os dois anos com competência e bom senso, mas as declarações de António Costa feitas na Tunísia a propósito dos funcionários públicos e a trapalhada do INFARMED foram asneiras incompreensíveis, Ofenderam muitas pessoas e passaram a mensagem a todos os que trabalham no Estado que a partir de agora só podem fazer planos a um ano, a qualquer momento o primeiro-ministro pode decidir que daí a um ano um instituto, uma direção-geral, uma direção de serviços ou uma divisão podem ser deslocalizados para uma qualquer aldeia do país, para melhor o rendimento per capita ou, quem sabe, para melhorar o património genético local. Ficaram a saber que o primeiro-ministro é mais do que um patrão, é uma espécie de dono que por serem funcionários públicos são uma espécie de escravos, já não tinham direito a receber o salário que tinha sido combinado, a partir de agora podem ser deslocalizados quando e para onde o primeiro-ministro bem entender.

É por estas e por outras que sou sincero, não senti a mais pequena vontade de festejar o aniversário do governo, mas mesmo que achasse que poderiam haver motivos acho que é uma parolice idiota, como muitos outros rituais políticos e governamentais a que só se assiste neste país.