Por mais que tenha aprendido de economia, que não tendo sido grande coisa poderá ter sido o suficiente para não dizer grandes asneiras, por mais modelos econométricos com equações simultâneas, equações quadráticas ou equações em Rn que tenha estudado, faz-me uma grande confusão quando em 2017 se fazem previsões do crescimento económico com o rigor de décimas. Fico com a impressão de que a economia não é coisa de seres humanos, podendo ser tratada como uma ciência exata.
Mas a verdade é que o ser humano já consegue enviar uma sonda para Plutão fazendo-a chegar ao Polo deste agora despromovido planeta, com um rigor de milímetros e de segundos, mas não consegue prever qual vai ser o crescimento no próximo mês de dezembro. Ainda bem que assim é, senão seria uma grande monotonia vivermos “geridos” pelo Mário Centeno, isso para não recordar que se fosse no tempo do Gaspar teríamos direito a tatuagem com número de rato de laboratório.
Não faço parte dos muitos que há alguns anos estavam convencidos de que a economia iria crescer graças à boa disposição nacional porque o Benfica ia ser campeão, também não estou convencido que os modelos econométricos do governo passem a contemplar uma equação quadrática para fazer considerar o dos beijinhos e abraços do Marcelo na taxa do crescimento económico.
Mas a verdade é que se as regras de gestão fossem aplicadas com rigor não existira um self made man e que se as previsões dos economistas estivessem sempre certas e se adotássemos todas as reformas que as Teodoras sugerem estaríamos ricos mas ainda teríamos de andar de alpargatas, a bem do crescimento da economia. Um dos primeiros temas dos cursos de economia é discutir se a economia é ou não uma ciência, todos os professores gostam que a sua arte seja ciência, daí que hoje tudo seja muito científico, um pouco à semelhança do socialismo do PCP, o único comprovado laboratorialmente.
Mas a mesma Universidade de Chicago de Milton Friedman, que pouca consideração tinha pelo lado humano da economia, deu ao mundo Richard H. Thaler, o professor que ganhou o Nobel em 2017, por ter estudado a importância da psicologia na economia, pondo fim ao desprezo pelo ser humano evidenciados por alguns economistas, com três artistas que ainda ontem ouvi numa das televisões.
Talvez faça sentido perguntar se um primeiro-ministro deve ser muito otimista ou moderadamente otimista, se um Presidente deve estimular o sucesso promovendo o otimismo e as boas soluções ou deve ir a todos funerais, velórios e missas do sétimo dia. De certeza que o crescimento nos próximos anos vai ser de 2% como diz Centeno, tendo em conta a envolvente externa e revelando um total desprezo pelos indígenas e pelos seus sentimentos e humores? Parece-me que os nossos economistas deviam voltar às universidades para voltarem a ser humanizados e socializados, aprendendo a ser motivadores de homens, a preocuparem-se mais com os sentimentos e motivações dos agentes económicos do que a reduzir a sua existência a cardumes com comportamentos condicionados e previsíveis.