quarta-feira, novembro 15, 2017

HAJA SERIEDADE A DEBATER OS PROBLEMAS NACIONAIS

A forma como os grandes problemas nacionais estão sendo debatidos parece um pouco um mercado tradicional onde, a cada momento, se vende a fruta da época. Os problemas aparecem e a agenda política é definida pelas prioridades jornalísticas que, por sua vez, geram uma posição presidencial. 

É importante para o país o que pode ser dramatizado pelas televisões a fim de conseguir audiências. Se os telespetadores se envolvem emocionalmente o Presidente da República toma a dianteira, define prioridades governamentais, emite a sua opinião científica e o país tem mais um problema para resolver. Por encomenda das televisões chega a vez dos cientistas, nos jornais surgem especialistas como se fossem cogumelos.

Os problemas não são estudados de forma global, com serenidade e com a devida reflexão. O Presidente exige dá uma semana ao governo para conceber um plano para mudar as florestas nas próximas décadas. Algum tempo antes a prioridade era pagar a dívida, agora que não há assunto, o tema volta a ser o crescimento e a dívida.

As soluções já não são pensadas para resolver problemas nacionais, são concebidas à pressa, para dar ao Presidente a sensação de que sem as suas exigências nada teria sido feito, as televisões passam a mensagem de que senão fossem os jornalistas o governo andaria a catar-se. Abordam-se os grandes problemas nacionais sem qualquer capacidade de antecipação, sem reflexão, anda-se a toque de caixa em função dos incidentes, dos vídeos feitos por smartphones que chegam às televisões ou dos humores presidenciais.

Um bom exemplo desta forma populista e terceiro-mundista é o que tem sucedido com os incêndios e outros fenómenos que têm ocorrido. Portugal tem um problema de desenvolvimento que leva a que tenhamos muitos atrasos para recuperar e poucos recursos para investir. Temos um problema climático sério, dantes era a seca do Sahel, agora são as alterações climáticas. Temos um problema agrícola que resulta transformação acelerada da nossa agricultura e das alterações demográficas no interior. Temos um problema com as florestas. Temos um problema com a água.

Todos os problemas são interdependentes, sem dinheiro faltam as infraestruturas e os apoios, sem repensar o modelo agrícola não faz sentido falar de florestas, sem água é perder tempo falar de agricultura e de florestas. Sem dinheiro dificilmente teremos as infraestruturas para que se resolva o problema da água. As alterações climáticas obrigam a repensar tudo, a utilização da água, o modelo de agricultura, o modelo de florestação.

Compreende-se que o Presidente saiba muito de direito e pouco de lagares de azeite, que os jornalistas sejam especialistas em tudo e não sabem nada, que os articulistas são pau para toda a obra, tudo isto junto dá um país onde se discute muito, mas com pouca reflexão, seriedade, honestidade e rigor. Falamos todos de tudo, se há um maremoto no Japão somos especialistas em maremotos, se há incêndios somos todos bombeiros, se ardem árvores somos todos especialistas em agricultura e florestas.