Ao primeiro sinal de dificuldades e apostado no seu neokenesianismo compulsivo José Sócrates tentou fazer austeridade orientada e cortou vencimentos aos funcionários públicos, condenando-os ainda à estagnação nas carreiras.
Veio Passos Coelho e aproveitou a boleia, inventou um estudo para atirar a opinião pública contra os trabalhadores do Estado (como se o trabalho já não tivesse sido feito muito antes, por personagens como Manuela Ferreira Leite), a partir daí tudo fez na tentativa de lhes cortar o rendimento ao meio, aumentou todos os descontos, pôs a ADSE a dar lucro, aumentou todos os descontos, eliminou-lhes os 13º e 14.º meses. Os funcionários públicos viram os seus rendimentos reduzidos em mais de 30%, foram difamados por todo e qualquer bardamerda da política e ainda foram remetidos para um grupo social inferior, gente que não passa de despesa pública e que é culpada de todos os males.
Os funcionários públicos passaram a ter vergonha de dizer em público qual era a sua profissão, a não ser, por exemplo, à mulher do primeiro-ministro quando ia ao IPO. Mas o mais indigno de tudo isto é que mesmo depois do Tribunal Constitucional ter decidido que os cortes nos vencimentos eram inconstitucionais nada mudou, os funcionários públicos continuaram a ser as vítimas privilegiadas da austeridade.
Mas o mais indigno de tudo isto é que na hora de repor os vencimentos em cumprimento do que o Tribunal Constitucional, essa reposição é apresentada como um bónus, um gesto de generosidade do governo. A devolução do que foi indevidamente tirada é apresentada como uma medida de política económica idealizada por grandes cérebros da economia!
Sejamos honestos, a famosa reposição de rendimentos foi lenta e parcial, uma boa parte dos funcionários públicos continua a ganhar menos do que ganhava e está há dez anos sem quaisquer direitos. A “devolução de rendimentos” não foi um favor, foi uma obrigação legal e a reposição da justiça.
Ninguém está a fazer favores aos funcionários públicos, a aumentar-lhes o rendimento como todos sugerem e muito menos a devolver o que não lhes pertencia. É tempo deste governo e dos canalhas que o antecederam assumirem que superaram a crise muito à custa de funcionários públicos e pensionistas e é humilhante que em vez de lhes agradecem, virem sugerir agora que lhes estão a fazer algum favor.