A direita portuguesa, seja a do CDS ou a do PSD, é historicamente intervencionista, herdeira do regime anterior nuca entrou em rotura com um modelo de gestão da economia que assentou no protecionismo nas trocas internacionais, no desenvolvimento industrial assente no modelo do condicionamento industrial e na formação de grupos empresariais sob a proteção do Estado, incluindo o uso indiscriminado da PIDE na repressão e dos sindicatos corporativos para condicionar os trabalhadores.
Mesmo depois do 25 de Abril de 1974 a afirmação do liberalismo económico foi sempre coxo, aplica-se apenas ao que interessa, até a “democracia económica” de Passos Coelho não passou de uma farsa, em vez de defender o mercado nos setores que lhe eram queridos, o que fez foi financiar setores privados, como o do ensino, com recursos do Estado.
O PSD, muito mais do que o CDS, alimentou-se do Estado para se confundir com a Administração Pública. Quem tivesse algumas ambições depressa recebia em cima da mesa da secretária uma proposta de adesão e a sua assinatura era meio caminho andado para ascender a um lugar de chefia. Ainda hoje qualquer funcionário do Estado consegue identificar uma dúzia de chefes de divisão, diretores de serviços e subdiretores-gerais que nunca subiram por mérito.
Na ânsia de reformatar o país em duas legislaturas, na penumbra da intervenção da troika, Passos Coelho ignorou que o seu partido e o Estado se confundiam, esqueceu as grandiosas cerimónias de apresentação de novos militantes que Cavaco Silva organizava no CCB. Por subserviência os militantes do PSD, mesmo com vencimentos reduzidos e risco de despedimento, apoiaram de forma cega o líder.
Agora, o PSD que defende um Estado mínimo arranjou um novo argumento para criticar o OE, dizem os seus ideólogos que 80% da despesa do Estado é com salários e pensões, exigem que os impostos cobrados a consumidores, trabalhadores e empresas, sejam devolvidos a estas. Isto é, a máquina do Estado deveria despedir o maior número possível de trabalhadores, a reforma que Passos deixou para a segunda legislatura, e usar os recursos poupados para financiar as empresas.
É uma forma estranha de encarar as funções do Estado, reduzi-lo ao mínimo, recorrer a mão de obra barata para poupar nos vencimentos, acabar com o regime de pensões tal como existe e manter a carga fiscal para financiar os lucros das empresas. Convenhamos que nem Salazar conseguiu ir tão longe no apoio às empresas e um século de capitalismo ainda não foi suficiente para que a direita portuguesa entenda que o intervencionismo estatal em favor das empresas não é a melhor forma de as tornar competitivas.