quinta-feira, maio 15, 2014

Os novos e os velhos maoístas

Eu ainda sou do tempo em que havia em Portugal um partido irmão do Partido Comunista da China, era o nosso PCP-ml o partido que os chineses reconheciam como o partido da vanguarda da classe operária portuguesa. Era uma das várias organizações ML que deram ao país uma boa parte dos seus actuais políticos. Curiosamente, o seu líder era um tal Eduíno Vilar que durante anos deixou de ser visto, para ressuscitar num congresso do PSD ocorrido no Coliseu dos Recreios em Lisboa, onde deu nas vistas por causa de um qualquer incidente. Não sei se faz parte da imensa comitiva medieval que serviu de corte aos nossos monarcas da Quinta da Conchas, mas era da mais elementar justiça ter sido convidado.
  
E quando o Eduíno Vilar era o tuga que representava o puro comunismo maoísta o metalúrgico Jerónimo de Sousa era o modelo de comunista na versão soviética, nesse tempo ao mesmo tempo que a URRS trocava tiros na fronteira com a República Popular da China e o Vietname pró-soviético expulsava os khmers vermelhos pró-chineses do Cambodja por cá o Eduíno seguia a linguagem do MRPP de Durão Barroso e chamava social-fascista ao Jerónimo e este respondia designando os ML por pequena burguesia radical. Era o tempo em que a camarada Zita Seabra, o modelo de mulher comunista, peluda e a cheirar a cavalo, liderava um MJT, uma espécie de milícia do PCP, numa batalha épica com o MRPP que destruiu a biblioteca do ISE.
  
Por vezes o destino é mesmo irónico e a orgulhosa direita portuguesa vai hoje a Pequim passar a mão no pêlo dos perigosos comunistas nascidos na revolução cultural chinesa e moldados na repressão mortífera dos manifestantes da Praça da Paz Celestial. Mas isso aconteceu muito antes das primavera árabes ou das manifestações de Kiev e agora os comunistas chineses são bem-vindos, eles e o seu dinheiros conseguindo à custa de dumping social e de um dos sistemas mais repressivos do planeta.
  
A admiração da direita pelos chineses é tanta que até o Eduardo Catroga decidiu prolongar a sua dedicação ao país, depois de ter trabalhado a título gratuito na produção do memorando com a troika decidiu perder dinheiro ao prescindir das suas pensões para ganhar muito menos na EDP. Por este andar ainda terá lugar reservado no próximo congresso do PC chinês, como representante da zona económica da Praça Marquês de Pomba, onde se situa a sede maior empresa chinesa da Europa.
  
Um dia destes ainda vamos ver Eduíno Vilar, Jerónimo de Sousa, Durão Barroso concluírem que aquilo que os une aos chineses é muito mais do que os que os divide em Portugal e superarem as suas divergências políticas. Enfim, não é nada que já não aconteça em muitas autarquias, para não referir o silêncio do PCP em torno do negócio da EDP ou de qualquer interesse chinês no capitalismo português. O amor aos chineses, o ódio ao PS, o desprezo pelo Dalai Lama, os projectos comuns nas autarquias, os jeitos parlamentares no derrube de governos não maoístas são mais razões mais do que suficientes para que um dia destes as correntes portuguesas se fundam num mesmo projecto político.
  
Da forma mais inesperada Portugal é governado por maoístas e o sucesso do maoísmo por estas bandas é tão grande que até conseguimos colocar um maoísta à frente da Comissão Europeia. Temos a direita com mais maoistas, temos os maoístas melhor colocados na política internacional à escala mundial, temos o maior partido comunista pró-chinês da Europa e talvez mesmo do mundo ocidental. Só falta mesmo sugerir a união de todos os pró-chineses no mesmo partido e a geminação de Portugal com a República Popular da China.