quinta-feira, maio 01, 2014

Hoje nenhum trabalhador será condecorado

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Por mais que os políticos o disfarcem na sua maioria revelam um maior desprezo pelos trabalhadores, até aqueles que prometem o paraíso na terra para os trabalhadores estruturaram uma ideologia que lhe permitem designarem-se a si próprios como vanguarda, vanguarda que nas maior parte dos casos é liderada por alguém vindo das classes abastadas. 
  
Ontem Cavaco Silva comemorou o 1.º de Maio à sua maneira, juntou alguns gestores seus amigos e apoiantes e condecorou-os, foi uma forma subtil de afirmar que gestores também são trabalhadores, como se na nossa sociedade fossem os administradores de bancos as vítimas do desprestígio social em consequência das suas profissões.
  
Apesar de séculos de evolução das sociedades humanos e dos progressos sentidos nas últimas décadas no combate às discriminações há ainda um desprezo social pelos que trabalham em profissões que não exigem grandes habilitações académicas, aqueles que genericamente são tratados como “mão-de-obra”. Este desprezo humano tão profundo como outras formas de descriminação como o racismo ou a homofobia e é tão evidente na Índia, nos EUA ou na Europa.
  
O cinismo é tão grande que não há político, clérigo ou empresário que não elogie os trabalhadores, que não manifestem as suas maiores preocupações com as condições de vida deles, mas na verdade isso não passa de encenações. Uma boa parte dos empresários vivem tranquilos sabendo que os seus trabalhadores passam fome, os padres vão almoçar de pois da missa na casa da beata burguesa, os políticos enchem os restaurantes de luxo.
  
Um bom exemplo deste desprezo colectivo pelos que mesmo trabalhando não conseguem deixar de ser pobres é evidente no debate em torno do salário mínimo, há meses que se fazem discursos muitos sérios só porque está em causa um aumento de seis cêntimos por hora, muito menos do que a perda de rendimento ocorrida nos últimos três anos.
  
Neste dia nenhum trabalhador será condecorado, nenhum trabalhador dirigir-se-á aos manifestantes, nenhum trabalhador almoçará na mesa do patriarca de Lisboa, nenhum trabalhador será convidado para o repasto presidencial, nenhum trabalhador molhará os pés na piscina de São Bento, é por isso mesmo que este é o dia dos trabalhadores.
  
É o dia em que a Internacional Socialista decidiu no ano de 1890 realizar manifestações para reivindicar as 8 horas de trabalho semanais, é, portanto, o dia daqueles que trabalhando não são respeitados na sua condição humana e nos seus direitos. Não é o dia do trabalho como alguns sugerem, para meter no mesmo saco o Fernando Lima da Presidência e o pedreiro que trabalha na obra em frente da minha casa.
  
É por isso que nenhum trabalhador será condecorado, nem neste dia nem em nenhum outro, porque o seu trabalho é desvalorizado socialmente e a riqueza que se distribui entre os mais ricos, que alimenta as campanhas dos partidos, que corrompe, que é distribuída entre amigos em esquemas como BPN só existe porque todos os anos os trabalhadores têm muito boas razões para celebrar o Dia Internacional dos Trabalhadores.