Apesar de tudo nem tudo está mal na economia portuguesa, em contextos económicos mundiais semelhantes ao que estamos a viver a economia portuguesa reagiu pior do que agora. A inflação atinge níveis preocupantes, mas está abaixo dos 3%, mesmo com economia em queda as contas públicas vão superando a crise recente, mesmo com uma política orçamental restritiva e o consumo interno em baixa a economia cresce, pouco mas cresce.
Há quem defende o regresso às rotativas de dinheiro fácil para ser pago pela gerações futuras, quem sonhe com o pleno emprego com empresas do tempo da Revolução Industrial, quem ache que tudo se resolveria privatizando todas as actividades do Estado potencialmente rentáveis ou vendáveis. É evidente que a entrada no Euro nos defendeu de males maiores, fora do Euro poderíamos a esta hora estar a bater à porta do FMI, mas isso são coisas de outro rosário, até já nos esquecemos de quem foram os governantes que conduziram o país ao respeito das condições exigidas para a entrada no Euro, mesmo sem uma redução forçada dos vencimentos dois funcionários públicos, como sucedeu, por exemplo, na Áustria.
Longe vão os tempos da inflação com dois dígitos, dos défices públicos insuportáveis, da dívida pública sufocante, dos acordos com o FMI decalcados da teoria dos Chicago Boys. Para muitos nem existe memória desses tempos ainda recentes e ainda bem que assim é.
Apesar de tudo o país mudou, há mais e melhores empresas, há mais e melhores empresários, os portugueses são mais qualificados, o Estado vai dando pequenos passos no sentido da modernização, o Fisco é mais eficaz, os portugueses são mais exigentes.
A questão está em saber quão melhor poderíamos estar se os portugueses fizessem um esforço para serem melhores, para darem um pouco mais do que conseguem dar, no fundo, se exigissem deles próprio o que exigem, por exemplo, dos futebolistas, para não falar dos políticos.
Como seria Portugal se o Estado fosse gerido pelos melhores, se as empresas mais competitivas não fossem asfixiadas por uma banca abusadora e por um Estado lento, se as grandes empresas de serviços enfrentassem a concorrência, se os patrões tivessem consciência das suas obrigações sociais e se todos os sindicatos negociassem a pensar nos interesses dos trabalhadores.
Todos temos razões de queixa do país, todos nos sentimos vítimas por termos nascido em Portugal, todos achamos que o tipo do lado é uma besta-quadrada. Mesmo assim o país progride, lentamente mas progride. Quase me apetece dizer que se Deus é brasileiro então o Pai-Natal tem mesmo de ser português.