sexta-feira, maio 16, 2008

Tempos de crise


Apesar de não nos faltarem motivos de distracção a verdade é que os tempos são de crise. Poderemos estar a escolher o televisor de alta definição para ver o Europeu, os deputados poderão estar mais empenhados em vitoriar Pinto da Costa no parlamento ou a divertir-se com o tempo que ele demora no wc, o cigarrinho clandestino do Sócrates pode ser um excelente motivo para discutirmos a governação, mas a verdade é que há muitos portugueses que estão a passar um mau bocado, muitos outros irão engrossar as estatísticas da pobreza e há uma grande probabilidade de a situação se agravar para muitos, a verdade é que a fome pode estar quase a bater à porta de muita gente.

A crise pode ser uma excelente oportunidade para alguns partidos se regozijarem com a oportunidade de obter ganhos eleitorais, alguns há meses que não escondem o “secreto” desejo de o calendário da crise se ajustar ao calendário eleitora. Para os mais ricos será uma excelente oportunidade de fazerem chantagem sobre os trabalhadores, exigindo mais medidas que favoreçam uma redistribuição de rendimentos que lhes assegure ainda mais riqueza, com a promessa de que em troca de baixos salários e da desregulamentação do mercado de trabalho criarão mais emprego. Mas a verdade é que a crise pode estar aí.

Já aqui se defendeu a necessidade de enfrentar a situação, propôs-se mesmo que eventuais “folgas” orçamentais fossem usadas para combater a pobreza, melhorando os subsídios destinados à sustentação dos rendimentos dos mais pobres. Esta crise tende a penalizar os mais pobres, a conjugação de uma alta taxa de inflação, com o aumento dos preços e da escassez de produtos alimentares, o desemprego crescente e a desvalorização constante do factor trabalho são os ingredientes de um cocktail socialmente perigoso. O próprio Cavaco Silva, homem que enquanto primeiro-ministro nos habituou ao desprezo pelas questões sociais, veio alertar para a necessidade de acorrer aos mais pobres.

É tempo de governo, partidos e todos os que gerem o poder político e económico deste país enfrentarem a realidade da crise, de perceberem que acima dos ganhos eleitorais, dos vencimentos dos administradores ou das cotações do PSI20 está um país que não consegue sair da crise, um país onde a pobreza se multiplica absorvendo já algumas das franjas da classe média.

São necessárias medidas políticas, mas também o empenho colectivo pois o jogo que o país disputa é bem mais importante do que o Euro 2008. Responder à crise é uma responsabilidade colectiva, se não o fizerem enquanto é tempo é bem provável que tenham de fazer para enfrentar uma situação bem mais difícil, nessa altura de pouco servirão os cargos políticos, os carros de luxo ou as vivendas à beira-mar. O empobrecimento dos portugueses está a ir longe demais, os sinais que nos chegam são suficientes para acender a luz vermelha pois a paciência dos marginalizados não é tão grande como muitos julgam.