Os três candidatos do PSD estão a cometeram o erro de considerarem as directas um ensaio do confronto com José Sócrates, transformaram as directas numas primárias e em vez de debaterem a crise em que o seu partido se está a enterrar preferem testar argumentos a pensar em sondagens. As propostas que apresentaram para o país foram paupérrimas, Ferreira Leite pouco mais disse do que agora seria a versão lusa da madre Teresa de Calcutá e Pedro Passos Coelho quase estragou o seu projecto com a embrulhada do ISP.
Talvez por isso Pacheco Pereira tenha aderido ao mais elementar do populismo, defendendo que os militantes do PSD devem votar Ferreira Leite porque é a preferida dos eleitores, no que tem sido secundado por Rui Rio. Por esta lógica o PSD passaria a ter como líder quem fosse preferido das sondagens, independentemente do seu projecto ou propostas políticas. Não estão a dizer aos militantes que o seu projecto é o melhor para o partido e para o país, estão a fazer chantagem, se votarem no candidato errado não alcançarão as vantagens de o PSD estar no governo.
O resultado está à vista, Ferreira Leite nada propõe, evita o debate com os seus parceiros, diz que não é actriz, em suma, os militantes devem votar no perfil e não no pensamento. Ora, o perfil que Ferreira Leite propõe não é o de Sá Carneiro de quem se sabia o que pensava e ia à luta em defesa de ideias, Manuela Ferreira Leite vai mais atrás e imita Salazar, em vez de propor uma actriz sugere uma figura do museu de cera, agora de hábito com riscas azuis.
Pedro Santana Lopes apresenta-se testando novas propostas, esquece as que o ridicularizaram e sugere novas medidas simpáticas. Tenta apresentar-se como homem de estado e aproveita as escorregadelas de Passos Coelho para tentar ganhar credibilidade.
Pedro Passos Coelho que começou por se apresentar com um projecto acabou por se render à lógica das propostas de medidas de governo, disputando a simpatia do eleitorado, não admirando que exija a Sócrates a descida do ISP.
O PSD que em tempos lançou o debate do seu programa, que esteve no centro da discussão da refundação da direita, afunda-se numa discussão de medidas avulso, não resistindo à tentação do populismo, facilitado por uma conjuntura internacional difícil. A verdade é que destas directas não está a resultar nem um projecto para o PSD, nem um programa credível para o país. A crise regressará no dia seguinte às directas ou, o mais tardar, no dia seguinte às legislativas.
Com que programa de governo se vai apresentar o PSD? Sem nenhum, como parece sugerir Ferreira Leite ou com um apanhado de medidas pontuais despertadas pelas notícias destes quinze dias? É mau, mesmo muito mau, que um grande partido como o PSD deixe de ter projecto político, troque o programa de governo pelo perfil de uma candidata ou se apresente com um programa que seja a síntese de quinze dias de populismo à solta.
Manuela Ferreira Leite não mostrou que vale mais do que a antiga directora-geral da Contabilidade Pública, Santana Lopes tenta dizer que é diferente daquele que todos conhecíamos como diziam os seus outdoors das últimas legislativas e Passos Coelho corre o risco de estilhaçar o seu projecto se continuar a cair na esparrela das promessas substituindo o liberalismo pelo populismo pimba, como sucedeu ao exigir a redução do ISP.