sexta-feira, maio 09, 2008

Os jovens não querem saber da política e dos políticos?


Esta foi a preocupação de Cavaco Silva no seu discurso do dia 25 de Abril, em que não usou o tradicional cravo na lapela mas tinha uma gravata vermelha, uma moda dos nossos políticos da direita que julgam que lhes basta uma gravata para conquistarem o coração à esquerda.

Confesso que ainda não entendi bem esta preocupação de Cavaco Silva, nas várias biografias do Presidente da República nunca dei por qualquer posição política anterior à sua chegada ao governo, que se saiba andou pelas escolas e por África sem que se tenha registado uma posição política sua, poderá ter feito algumas afirmações em família ou em privado, mas isso não são posições políticas, são desabafos.

Enquanto Cavaco cuidou do seu sucesso enquanto estudante houve outros que puseram em risco o seu futuro para protestarem contra a ditadura. E enquanto estudante de economia Cavaco Silva nunca poderia dizer que não entendia o mundo que o rodeava. Ora, muitos dos jovens de hoje fazem o que Cavaco Silva fez quando era jovem, mas por razões diferentes, no tempo da ditadura havia motivo para detestar os políticos do governo e alguns preferiram o silêncio, hoje temos democracia porque em Abril houveram jovens que tiveram coragem.

A minha geração, como a de Cavaco Silva, pensou que podia mudar o mundo, sonhou que era possível um Portugal melhor, ainda em ditadura ou já numa democracia quase total foram muito, senão mesmo quase todos, os que deram largas à sua juventude, recusaram-se a ser comedidos ou mesmo cobardes, foram generosos ao porem tudo à frente dos seus interesses pessoais.

Não estranho que os jovens de hoje se preocupem menos com política, vivem em democracia e muitas das causas que abraçam não passam necessariamente pelos partidos políticos, passam por movimentos ambientalistas, por ONGs e muitas outras iniciativas. Mesmo nos partidos políticos há organizações de jovens extremamente activas, veja-se a JC ou mesmo o BE que em grande medida é um partido de jovens, ainda que o Louça já seja um pouco entradote.

Provavelmente há hoje mais jovens empenhados em causas colectivas do que no tempo de Cavaco Silva ou no meu, até diria que as novas gerações são tão activas e corajosas do que as que ajudaram a nascer a democracia. Acima de tudo e mais importante do que o seu empenho político os jovens de hoje estão mais satisfeitos do que aqueles que tinham como horizonte próximo o exílio ou uma partida para África.

Basta olhar para as palavras de ordem do Maio de 68 [Link] para percebermos que quase tudo o que os estudantes franceses exigiram os nossos jovens têm muito antes de chegar às universidades. Sugiro a leitura dessas palavras de ordem que traduzem as exigências dos jovens de 68 para conferir quantos desejos estão por cumprir.

Se os jovens de hoje seguissem o exemplo de Cavaco Silva só se meteriam na política aos quarenta anos e na condição de serem ministros. Felizmente são muito mais generosos do que isso.