Os candidatos à liderança do PSD apresentam-se todos como candidatos a primeiro-ministro como se o partido fosse uma plataforma eleitora e contra todas as evidências prometem a vitória. A mais de um ano das eleições legislativas só um desastre provocaria a derrota de Sócrates, aliás, apoiantes de Ferreira Leite como Pacheco Pereira e Marcelo Rebelo de Sousa não escondem que uma maioria relativa do PS seria um grande resultado para o PSD.
Só que a crise do país não passa para já pela escolha do líder do PSD, por esta escolha passa a solução da crise deste partido, uma crise que todos os candidatos insistem em ignorar. É evidente que se o PSD ganhasse as próximas legislativas tudo ficaria resolvido por uns tempos, os barrosistas voltariam a andar de braço de dado com os santanistas, os cavaquistas voltariam à tranquilidade dos seus gabinetes mais requisitados pelo poder.
Se os candidatos a líderes do PSD assumem que só o são porque querem ser candidatos a primeiro-ministro, então teremos que colocar a questão de outra forma, qual será a pior derrota para o PSD?
Se Santana Lopes ganhar as directas e perder as legislativas os cavaquistas e barrosistas, terão um segundo fôlego, uma nova oportunidade. Deixarão o PSD arrastar-se penosamente durante mais três anos e regressarão em força para se sacrificarem em nome da salvação do PSD se e quando o futuro governo do PS começar a quebrar nas sondagens. O mesmo farão os barrosistas, os que têm emprego voltam à tranquilidade dos gabinetes, os desempregados vão fazendo uns biscates em Bruxelas para ajeitar as contas domésticas.
Se Manuela Ferreira Leite ganhar as directas uma derrota nas legislativas significará o fim político da geração de políticos que mais receberam da política e menos deram ao país. É o fim do cavaquismo e o regresso de Santana Lopes que terá ao seu lado um aparelho do partido arrependido pelo seu último devaneio cavaquista. Não faltarão as vozes a queixar-se da falta de apoio de Cavaco Silva, ou as tentativas de explicação da derrota de uma má candidata.
Se Pedro Passos Coelho ganhar a liderança do PSD sabendo os militantes que não estão a escolher o futuro primeiro-ministro, estariam sim a derrotar o cavaquismo, o barrosismo e o santanismo. Em vez de escolherem uma ilusão estariam a resolver uma crise que a prolongar-se pode levar o PSD a um ciclo de derrotas que poderá não se ficar pela próxima série de actos eleitorais.
De fora ficou Rui Rio, o melhor estratega deste jogo, empurrou Ferreira Leite para uma derrota frente a Santana ou, na melhor das hipóteses, contra José Sócrates, entretanto divide os votos dificultando ou impedindo a vitória de Passos Coelho. Evita "fugir" da CML e renovar o mandato camarário pode esperar tranquilamente pelo melhor momento para concorrer à liderança do PSD, a crise vai durar até que as sondagens reanimem as hostes e apareça um salvador, esse salvador será Rui Rio, o mesmo Rui Rio que se salvou ao mandar Ferreira Leite para a frente. Para Sócrates derrotar a dama do ferro velho basta usar os elogios que Rui Rio lhe tem feito.