É curioso que o PCP que tanto detesta o patronato na hora de discutir a legislação laboral tem uma visão paternalista dos patrões. Para o PCP o patrão é como a esposa, é para toda a vida, mesmo que o mercado da empresa se extinga o patrão deve ficar com os seus empregados até que esgote todos os recursos.
Esta abordagem do papel paternalista da empresa pode dar excelentes resultados junto de alguns trabalhadores, mas são exactamente os trabalhadores os lesados por este proteccionismo. Tal como sucedeu com todas as os paraísos admirados no passado pelo PCP também as empresas vão à falência, aliás, quanto maior for a rigidez no mercado de trabalho maior incapacidade terão as empresas e a economia em responder aos novos desafios da competitividade.
No plano internacional a posição do PCP também é contraditória, ao mesmo tempo de critica a globalização elogia os progressos da China, esquece que o crescimento económico da China é resultado dessa globalização. As cedências ao capitalismo por parte da China são compreendidas e elogiadas pelo PCP, mas rejeita a necessidade de adaptar as empresas para serem capazes de fazer face à concorrência desleal da China, onde os trabalhadores imaginam poder vir a ter o que por cá o PCP rejeita. Não deixa de ser curioso que o PCP defenda que os patrões portugueses sejam o que os patrões chineses são estimulados a não ser, a bem do comunismo chinês.
O actual processo de negociação da legislação laboral já está inquinado pela estratégia política do PCP, julgando estar confortável nas sondagens qualquer acordo no âmbito da concertação seria uma desgraça política. Portanto, o PCP tratou de avançar com uma moção de censura, que Jerónimo de Sousa disse ter vencido nas ruas apesar de derrotada no parlamento.
Portanto os sindicatos cujos dirigentes passam pelo crivo do PCP irão negociar de má-fé, não estarão a discutir propostas em função dos interesses dos trabalhadores pois todos os que participam nessas negociações sabem que mais tarde ou mais cedo a CGTP se retirará das negociações com as justificações já avançadas por Jerónimo de Sousa no parlamento.
Os interlocutores dos sindicatos controlados pelo PCP não levarão a CGTP minimamente a sério pois sabem que de nada lhes serve ceder pois a Central Sindical não tem nada para negociar. As negociações serão entre o patronato e a UGT, já que enquanto a CGTP representa o CC do PCP a representação dos trabalhadores fica entregue em exclusivo à UGT.
Desta vez o PCP foi longe demais na sua estratégia eleitoralista, tornou evidente que à frente dos interesses dos trabalhadores estão os do partido. Mais importante do que os trabalhadores conseguirem um acordo mais favorável, é o PCP ter mais um ou dois deputados que antes de tomarem posse assinarão uma carta de demissão e que passarão a legislatura calados, a acenar a cabeça e a bater palmas quando o Bernardino falar, nem que seja para elogiar a Coreia do Norte ou o modelo de capitalismo sem regras na China.