quinta-feira, maio 29, 2008

Os pobres ficam caros


Os nossos pobres dão muito jeito à economia, pelo menos os que ainda estão em idade de trabalhar, com um modelo económico assente em baixos salários os pobres fazem falta à competitividade da economia. Empresários, ministros do Trabalho e governadores do Banco de Portugal empenham-se permanentemente para que os salários não subam muito.

Só que a pobreza também tem os seus custos, os seus inconvenientes, fica muito cara à economia. Bem feitas as contas os pobres dão mesmo muita despesa, ficam mais caros ao SNS de que são dependentes, deitam à rua os recursos investidos na educação ao abandonarem as escolas, sobrevivem com subsídios, etc., etc..

Não percebo, portanto, as razões do empenho de tanta gente para que os pobres não deixem de o ser ou, pelo menos, que o deixem de ser muito devagarinho. É evidente que os nossos defensores de um modelo económico miserabilista, uma velha tradição das nossas elites política e económica, não são muito dados às contas, pelo menos às contas colectivas já que quanto às suas todos sabemos que as sabem fazer.

Para que meia dúzia de sectores empresariais possam viver tranquilamente à custa de baixos salários, sem, terem, que apostar em gestão, design, investigação, tecnologia, criatividade e outras coisas que dão trabalho e custam dinheiro, temos que manter uma boa parte dos portugueses em regime de pobreza controlada. Vivemos num circulo vicioso, porque somos pobres a procura interna é insuficiente, em consequência disso a economia depende das exportações e quando as coisas estão melhor importamos mais porque não há oferta interna para o consumo dos mais ricos. Voltamos a ter dificuldades e aparece logo o Vítor Constâncio a apelar ao governo para que explique aos pobres que sejam mais comedidos, que tenham mais calma porque isso de se deixar de ser pobre depressa demais tem os seus perigos.

A pobreza não só é cara como ainda por cima limita o mercado interno a níveis que nos obrigam a continuar a ser pobres. Vivemos num círculo vicioso de pobreza, onde a existência de pobreza é uma condição necessária para que deixe de haver pobreza.

Agora que se volta a falar em pobreza talvez seja o momento de dizer que o problema da pobreza não é apenas um resultado do nosso modelo económico, é o seu motor. Talvez seja tempo de se perceber que se o objectivo é acabar com a pobreza endémica no nosso país há que considerar o seu combate um objectivo prioritário das políticas governamentais e não assunto para quando a “crise aperta”.

Talvez seja tempo também para ensinar os nossos ricos a fazerem contas e explicar que ao contrário do que dizem alguns liberais não são os pobres que o são por serem preguiçosos, no nosso país uma boa parte da pobreza também se explica pela preguiça dos nossos empresários. Há por aí muita malandragem.