Quando se soube que Jaime Silva era o novo ministro da Agricultura o “meio” ficou descansado, homem da equipa de Álvaro Barreto deixava descansados os homens dos subsídios dos cereais que dominam a CAP, bem como o pessoal dos eucaliptos. Quando se soube que Luís Vieira era o secretário de Estado da Alimentação foi a vez do pessoal do leite se tranquilizar. Além disso o aparelho do ministério da Agricultura tinha um dos seus em ministro. Estavam reunidas as condições para que tudo continuasse na mesma no sector da agricultura, mas não foi isso que sucedeu, Jaime Silva vinha mudado de Bruxelas.
Apostei em Jaime Silva como um ministro que capaz de levar a política agrícola aos que tinham sido marginalizados pela PAC, travando a desestruturação económica do meio rural. Uma boa parte do nosso meio rural foi transformada em reserva ecológica da Europa, enquanto os agricultores dos outros países recebem subsídios chorudos, muito das nossas aldeias foram condenadas à falência, esquecidas por uma PAC que vê a economia rural a partir nos navios de cereais e leite em pó.
Conhecedor profundo das negociações comunitárias e do nosso meio rural, sensível aos problemas do interior pois é natura de Almeida, Jaime Silva poderia ter dado uma nova dimensão à política agrícola, furando os limites da PAC e adoptando medidas que apontassem para uma política agrícola nacional, capaz de assegurar melhores rendimentos aos que tinham sido esquecidos e marginalizados pelo FEOGA.
O novo ministro começou bem, enfrentou o lóbi dos subsídios e congelou as ajudas ambientais, mas tanto o fez aos latifúndios do Alentejo como aos pequenos projectos das regiões montanhosas, até os burros mirandeses ficaram a zurrar pois até os projectos da APEGA, a associação que protege a única raça de burros portugueses que tem compridas e peludas, foram congelados.
Nas pescas foi o que se viu, na falta de subsídios concederam-se mais umas benesses para que o sector possa continuar a morrer tranquilamente.
Embrulhado na reestruturação do ministério da Agricultura, confrontado com alguns directores-gerais menos competentes e com uma equipa que parecia nomeada por Capoulas dos Santos, Jaime Silva pouco fez.
Agora que os preços dos produtos agrícolas deixaram os nossos agricultores produtores de subsídios tranquilos e que o ministério está mais ou menos reestruturado talvez Jaime Silva opte por reflectir sobre como assegurar a viabilidade económica da agricultura menos competitiva, designadamente, a agricultura de montanha, indispensável para assegurar a manutenção do tecido social de uma boa parte do nosso meio rural, indispensável a uma boa gestão do ambiente. O paradigma dessa agricultura não está na produção em massa e nos mercados, está na produção de qualidade e no ambiente. Se os industriais têm que pagar para produzir CO2 porque razão os que asseguram a continuação da floresta que elimina esse CO2 nada recebem?
Terá Jaime Silva tempo para me convencer que tinha razão quando apostei nele?