Todos os portugueses sabem que o ensino em Portugal estava mal, que a gestão dos recursos humanos do sector visava mais o bem-estar dos profissionais do sector do que os resultados do sistema, que a gestão de muitas escolas é feita à margem do interesse dos alunos. Apesar desta realidade reformar o sistema educativo é uma tarefa quase impossível, no ensino é gerido como se fosse uma imensa comuna onde todos são iguais, a única regra admitida para diferenciar professores era a antiguidade, um professor de matemática do 12.º ano dá o mesmo número de aulas e ganha o mesmo que o que lecciona o 5.º ano. É um sistema absurdo onde a colocação de professores está cheia de regras para assegurar a sua igualdade e parte do princípio de que o melhor professor é aquele que tem mais anos de serviço.
Mudar tudo isto sem a oposição dos professores e sem a oposição dos sindicatos é impossível. Escolher os melhores professores? Nem pensar, para a Fenprof e para o PCP os professores são todos iguais.
Uma reforma do ensino teria que passar pela avaliação dos professores, pela introdução de critérios de selecção para além das notas finais, pela estabilidade das colocações e um sem fim de medidas, algumas das quais afectando o estilo de vida dos profissionais do ensino.
Mas a maioria dos professores são bons professores e profissionais dedicados e tão ou mais empenhados na qualidade das escolas quanto qualquer ministro da Educação. Os professores são-no por vocação e opção de vida enquanto a maioria dos ministros da Educação só o são por acaso, alguns só sabem que o vão ser na véspera de tomar posse. A desconfiança e a resistência à mudança não explicam a forma como os professores se divorciaram das políticas para o sector, explicar desta forma a resistência dos professores é tentar esconder os erros.
Não só a reforma foi muitas vezes apresentada como se visasse os professores como foram cometidos erros graves como o concurso dos professores titulares foi uma injustiça que ofendeu centenas de professores exemplares com décadas de dedicação ao ensino.
É fácil ter boas ideias para um sector onde os males são evidentes, mas é impossível lançar reformas como se fosse vagas de assalto contra um exército formado pelos professores. O debate público em vez de se centrar sobre as questões do ensino (quantos alunos deve ter uma turma? A carga horária de um professor do 12.º deve ser a mesma de um professor do 5.º ano? Qual o modelo de gestão mais adequado para uma escola? Quais os critérios que devem presidir à formação das turmas? Etc.) foi orientado de forma a que qualquer oposição por parte dos professores fosse entendida como uma resposta à perda de mordomias, a reforma foi apresentada como um instrumento para repor os professores na linha.
A equipa do ministério da Educação conseguiu o impossível, unir toda a classe dos professores em torno de um membro do CC do PCP, levando muitos a comportamentos eticamente reprováveis como os apupos e ofensas nas esperas a Sócrates ou as manifestações falsamente espontâneas à porta do PS. Conseguiu-o porque foi incapaz de promover as reformas sem as apresentar como um gesto hostil contra os professores.
Resta esperar que neste ano volte o bom senso e que os responsáveis do ministério sejam capazes de reconhecer os erros e corrigir as injustiças que cometeram em relação a muitos professores que no plano dos princípios até estavam disponíveis para a mudança do sistema de ensino.