segunda-feira, setembro 08, 2008

Uma má lição


Parece que não mas as directas ganhas pró Manuela Ferreira Leite já ocorreram em Março e nem o PSD nem os eleitores sabem o que pensa a líder ou a candidata a primeiro-ministro. Pior. O seu discurso tem sido pautado por contradições e por uma total dependência da agenda de Cavaco Silva. Depois de um silêncio prolongado e de ter subsistido à custa da informação de Belém os jovens do PSD e os comentadores políticos aguardavam por uma intervenção de qualidade em Castelo de Vide, Manuela Ferreira Leite criou expectativas e teve tempo para se preparar.

Mas foi uma desilusão, deu um mau exemplo do que não se deve fazer como professor e como líder político, como professor porque se esqueceu de que estava a falar para os alunos transformando-os em elementos de decoração, como político porque foi incapaz de transmitir esperança ao país. Se eu fosse aluno e me fosse pedido para sintetizar a “lição” diria que “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”.

A mesma Manuela Ferreira Leite que asfixiou os exportadores retendo-lhes abusivamente os reembolsos do IVA para ajeitar as contas e cumprir o défice vem agora defender o apoio à exportação? A mesma Manuela Ferreira Leite que participou numa encenação em Óbidos a prometer milhões para a ciência vem agora prometer inovação científica?

O discurso económico foi mau, dizer que se apoiam os exportadores ou que se reduzem impostos quando até há dias dizia que isso é inviável é muito pouco e revela pouca seriedade e rigor. Como vai apoiar os exportadores? Alterando o código do trabalho para lhes aumentar a competitividade? Modernizando os portos? Há muitas formas de apoiar o sector da exportação mas poucas são eficazes, a competitividade das empresas não depende de medidas pontuais, carece de uma reforma global do país. E porque é que em vez de apostar apenas na exportação não aposta também na produção para o mercado interno, o que até é mais fácil e pode ter o mesmo efeito na Balança Comercial?

O discurso económico de Manuela Ferreira Leite, qualquer aluno da Universidade de Verão que tenha frequentado o primeiro ano de um curso de economia teria feito melhor.

Todo o resto do discurso bem espremido não daria nada, aliás, quem ler regularmente os artigos de Pacheco Pereira percebeu quem o escreveu. As referências à democracia e à comunicação social não passa de politiquice para quem tem paciência de aturar o JPP. Falar em manipulação estatísticas é um discurso pouco sério pois fere organizações que ninguém costuma pôr em causa e a líder do PSD até tem pouca autoridade para falar do tema depois de ter varrido uma boa parte do défice público para debaixo do tapete.

No fim da lição tive que concluir que foi uma péssima lição, ficou muito aquém da que foi dada por Pedro Passos Coelho que não só evitou a postura do tipo “cara de pau” como mostrou ter um projecto para o país, um projecto que não é feito a pensar nas novas sondagens ou para esconder uma ausência silenciosa prolongada. O país não se constrói com fugas de informação da Presidência da República ou com os fantasmas inventados por Pacheco Pereira, a crise supera-se com novas ideias, projectos e debate sério, algo que Passos Coelhos tem mostrado ter que de que de Manuela Ferreira Leite ninguém duvida de que nunca virá a ter, falta-lhes a dimensão como política e a capacidade intelectual.